30|09|1930
O Exmo. O Sr. Dr. Rebello Junior,
Secretário da Viação, inaugurou anteontem em Morretes, uma estrada que mandou
construir dessa cidade ao porto de Barreiros.
Como se sabe
o aludido porto quer em tempos passados quer presentes, serviu e serve as
pequenas necessidades locais a que o Rio Nhundiaquara, embora precariamente,
vem dando transporte desde épocas as mais distantes, pois era por eles que os
primeiros povoadores do mesmo território se comunicavam com o planalto.
Hoje se
restabelece essa comunicação, independentemente do citado rio, por uma estrada
de 9 Km, levada a efeito em excelentes condições técnicas, idêntica a do ramal
da Graciosa que vai à Porto de Cima e a Morretes, embora não macadamizados mas
convenientemente ensaibrada.
Reata assim,
o Porto de Barreiros essa função histórica, útil aos descobrimentos, conquistas
e povoamentos do território ao ocidente da Serra do Mar.
Os mais
importantes caminhos para a economia curitibana ao tempo em que se fixaram no
planalto os princípios povoadores brancos foram o do “Arraial Grande” e “dos
Currais”.
O do “Arraial Grande” também chamado de “do Itupava” e “do
Barro Vermelho”, foi aberto na “Serra do Mar”, desde o Porto de Cima, então
Porto Real, até os campos dos Pinhais de Curitiba. Do mar até Porto Real o
percurso se fazia em lanchas e canoas pelo porto “de Barreiros”, com uma
estação de pouso no Porto do Meio, depois “dos Morretes”.
Este caminho
foi aberto pelos aventureiros preadores de índios e mineradores de ouro, e do
seu tráfego resultaram os arraiais de São José dos Pinhais e Curitiba.
Mais tarde
foi o caminho melhorado e até mesmo empedrado em parte da Serra, já então era
conhecido como caminho de Itupava, devido a ser traçado numa aberta da Serra,
na parte em que tinha essa denominação parcial a cordilheira marítima.
A sucessiva entrada de povoadores atraídos pelas riquezas
auríferas dos rios ao ocidente da Serra do Mar, foi ponteado de arraiais o então chamado Sertão de Curitiba.
Um desses
arraiais foi do Atuba, onde se concentrou o maior núcleo de população do qual
derivou a fundação de Curitiba. Desta localidade, segundo a tradição, um
caçador, perseguindo uma anta, viu-se em pouco tempo em Porto de Cima por uma
aberta de Serra mais suave que a do Itupava.
Em virtude
desse descobrimento e com a crescente necessidade de comunicação com o mar, o
novo rumo passou a ser procurado, e em 1781, um pouco melhorado, e por fim, em
1807, era um rival do de Itupava.
“Parece-nos,
diz o engenheiro Monteiro Tourinho, que evitando-se a escabrosa vereda do
Itupava, e conseguintemente o Porto de Morretes, procurou-se embora por uma
linha muito mais extensa, um ponto de embarque no rio Cachoeira”, em Antonina.
Este fato desde então foi motivo de rivalidades que ainda perduram entre os
portos de Paranaguá e Antonina.
Em 1807, o
caminho pela Graciosa (assim chamado por partir da capela desse nome,
construída em 1714 no vale do rio Cachoeira, origens de Antonina) já estava
aberto, por esforços do Governador e Capitão General da Capitania de São Paulo,
Conselheiro Antonio José de Franca e Horta, com protestos da Câmara de
Paranaguá. A Câmara de Antonina, por sua vez, alegou junto a D. João VI, os
embaraços que lhe impunha a Câmara vizinha, até que em 1819 tudo se acomodou,
porque os interesses do comércio com Curitiba era pelo novo caminho e bem assim
os da navegação, mais breve de Paranaguá a Antonina do que a do mar a Morretes,
onde, além disso, somente podiam chegar
canoas.
***
De novo as necessidades locais da
baixada litorânea se afigurou útil e Porto de Barreiros para os pequenos
movimentos comerciais dos municípios de Morretes e de Porto de Cima. A
promissora exportação de bananas desses dois municípios tem assim uma porta
própria de mais fácil acesso para eles do que as de Antonina e de Paranaguá.
Cada um à espera dos seus peculiares
interesses que a concorrência poderá
sobrepujar uns aos outros mas nunca excluí-los completamente, como observou
Monteiro Tourinho, aos portos de hoje se ajuntarão outros para o futuro,
criados pela necessidade dos povoamentos e pela intensidade incessante do nosso
comércio dependente do mar.
“Tempo virá (diz aquele notável
engenheiro a quem o Paraná deve larga soma de serviços profissionais e de
devotamento as grandes causas do seu progresso) “em que nas costas do pequeno
mediterrâneo assinalado nas cartas com o nome de Baía de Paranaguá, surjam
outras povoações e cidades com ancoradouros naturais ou artificiais onde venham
terminar outras estradas”. E antevendo a realidade de sua profecia, Monteiro
Tourinho exclama:
“Quão ridículas, parecerão então aos
vindouros estas nossas questianculas
de nortes”.
ROMARIO MARTINS