sábado

PINTOR MORRETENSE





         Theodoro de Bona, natural de Morretes, é artista consagrado além das fronteiras pátrias, pois tem telas suas adquiridas pela municipalidade Veneza, além de ser um dos vencedores do concurso movido pela Rainha da Itália, em 1936, que reuniu todos os pintores naquele país para a fixação de episódios da 1ª Grande Guerra, quadros esses que figuram na Galeria da Guerra e da Vitória, em Roma. De Bona é hoje professor catedrático da Escola de música e Belas Artes do Paraná. A respeito da sua vida e da sua obra, o professor Erasmo Pilotto escreveu um livro, que o artista aparece autografando, na foto acima.

sexta-feira

Beleza e Glória do Mundo Nhundiaquara (1955)


                                                                                                                              


Texto de Ennio Monção Pires


A Empolgante história da terra do historiador Rocha Pombo – Os grandes estadistas, poetas, jornalistas, escritores, artistas, cientistas, militares, engenheiros, advogados, filhos daquele bi-centenário torrão – Fundado o Instituto Histórico e Geográfico de Morretes

        Pelo admirável rio paranaense viajou, em 1880, até Morretes, S. Majestade Imperial D. Pedro II – O repórter no quarto onde dormiu, duas noites, naquela cidade, o mais sábio e democrático (não obstante Imperador) de nossos governantes.



Um dos mais requintados prazeres espirituais, um dos mais sutis e esplêndidos gozos intelectuais consiste, não há dúvida, muitas vezes, em penetrarmos determinados e encantadores umbrais da História, - sobretudo desta História que, caracteristicamente nacionalista, fala dos grandes fatos e dos soberbos vultos da Pátria imensa. E não é simplesmente e exclusivamente, nos centros de estonteante progresso, nas deslumbradoras metrópoles, nas extraordinárias esferas cosmopolitas, que o espírito mergulha, maravilhado, nas cristalinas e refrescantes águas da História. Em plena hinterlândia, nas cidades adormecidas e rudes e feias, por vezes nas suas exteriores e superficiais características, mas belas, de uma emocionante e espiritualística beleza, na sua empolgante vetustez, nos séculos que lhe imprimem aspectos de uma expressividade sem par, - é nessas cidades, nimbadas da luz do tempo e da Glória, pela etérea e perenal presença de seus filhos ilustres, que temos o finíssimo, o incalculável prazer de entrar em contato com o Passado.

EM MORRETES, NO QUARTO EM QUE DORMIU D PEDRO II

            Em nossa missão jornalística e sob a imposição de variados interesses, estamos constantemente a fugir do metropolitano afalto do pisca pisca dos gigantescos luminosos da frebrieitante agitação das cadilaquonas artórias – para a magnífica placidez interiorana, para a vida silenciosa ensimesmada e anônima das pequeninas cidades (pequenas e rudes no seu primitivismo urbanístico mas admiravelmente grandes de uma singular importância, na simplicidade e na ausência de nevrosados complexos, na ausência de traumatizante preocupações de seus habitantes).

            Numa dessas constantes e recentes fugas de asha verus  da Imprensa, de ergastulado da inteligência, estivemos na bi-centenária Morretes, torrão berçal de Rocha Pombo, do simbolista Silveira Netto, do imperial estadista, Manoel Alves de Araújo, do jornalista João Rodrigo de Freitas, do internacional escultor João Turim, do Almirante Frederico de Oliveira, do engenheiro Odair Grillo, do advogado Antonio Picardi e de numerosos outros gloriosos nomes – distante, Morretes apenas duas horas e meia, via férrea, desta já Centacular Curitiba.

            E ali, naquela cidadezinha, fundada por João de Almeida, e esplêndida nos seus duzentos e vinte e dois anos de existência, - imergimos, fascinados, o espírito num Passado verdadeiramente augusto. E nos deliciamos de corpo presente com a História.

            Acontece que lá pelos idos de 1880, o Imperial D. Pedro II acompanhado de D. Tereza Caletina, subiu, de tancha o rio Nhundiaquara (então francamente navegável), até Barreiros – ou Porto de Barreiros, o primeiro porto paranaense – e dali, de bateião prosseguiu até Morretes. Chegando a Morretes (na época, Nossa Senhora do Porto dos Morretes), D. Pedro II e sua comitiva desembarcaram pelo portão de acesso da residência do senhor Joaquim Alves, grande hervateiro, e em cuja casa está atualmente instalada a Coletoria Estadual daquele município. Subiu, então, S. Majestade Imperial pela escadaria ali existente e que desce até o rio.  Vimo-la a eminentemente histórica escadaria. E temados de extraordinária emoção, estivemos naquela casa, no quarto em que dormiu D. Pedro II, hóspede que foi do Comendador Joaquim Alves.

            Presume-se, aliás, segundo a tradição oral, que D. Pedro II tenha permanecido dois dias em Nossa Senhora do Porto dos Morretes, dali prosseguindo para esta Capital, Palmeira e Ponta Grossa, fazendo este itinerário por terra, possivelmente a cavalo.



D. Pedro II na Matriz de Morretes

           

            Folheando o 3º livro de Tombo da Paróquia de Morretes , isso graças a gentileza do Padre João Camargo, vigário local, - e homem assaz inteligente e culto – tivemos oportunidade de verificar que a 4 de junho de 1880 – precisamente há setenta e cinco anos, - D. Pedro II e a imperatriz D. Tereza estiveram em visita à Igreja Matriz de Morretes. Isso confirma indubitavelmente, a presença naquele ano da presença de D. Pedro II na mais de duas vezes centenária cidade banhada pelo Nhundiaquara, importantíssimo centro d’água que mereceu este cântico soneleante de Adolfo Werneck:



Magno rio! Tal qual uma serpente

curva, fazendo curvas, a rolar,

vais confundir tua vaga transparente

à verde-escura ondulação do mar.

“ Ao contemplar-te, majestoso, a gente

de súbito se deixa arrebatar,

e – Ofélia – vais do gosto da corrente,

belos sonhos azuis a edificar.

“ Soberbo rio! Ó rio Nhundiaquara,

não creio se suplante o próprio Nilo,

sem flóreas margens, sem tua linja clara.

“ O coração semelhas com tuas águas,

ora, sonhando, a deslizar tranquilo ...

ora rugindo em convulsões de máguas!...



INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MORRETES

De tal subido valor é o acervo de pletéritas, de homens e fatos tocados de arrebatador tradicionalismo de Morretes: tão admirável, tão rica, tão substanciosa é a História daquela pequenina grande terra – que, além de outras instituições de sua imaressível vetustez, foi fundado, aliás, dia 23 de abril próximo passado, o Instituto Histórico de Morretes! Tem como presidente: Padre João Camargo, vigário da paróquia local; como vice presidente, nada menos do que um autêntico historiador, um estupendo pesquisador de tudo o que diz respeito ao Passado – o Augusto Kubash, também pertencente ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e que reside no interior do município de Morretes.

           




                                                                           
















Exaltação




                                               Ao Theodoro De Bona



Foi o dia de hontem, ao entardecer,

De emoção forte e ocasião feliz.

Na exposição de Bona eu pude ver

A arte que pelo verbo não se diz...



Pudesse eu com a Penna descrever

Das bellezas das cores o matiz

Falo-ia com vehemencia e tal poder

Que abalaria o mundo até raiz



Mas... impotente, a pobre musa exalta

Com voz sincera que jamais lhe falta,

O TITAN do pincel paranaense.



Saúdo em ti, De Bona, Illustre amigo,

A eterna Estirpe do Collosso antigo,

Que viu a luz em terra morretense!



E. B. Mori

Curityba, 12|03|1937.

Há Cem Anos Nascia o Poeta






Morretes e todo o Paraná, comemoram hoje o centenário de nascimento de Manoel de Azevedo da Silveira Netto que em 7 de setembro de 1922 foi eleito o “Príncipe da Poesia Paranaense”.  Filho de Morretes, Silveira Netto pertenceu à antiga geração literária do Paraná, do grupo do Cenáculo, que floresceu na última década do século passado, a que pertenciam também nomes como Julio Pernetta, Dario Veloso e Antonio Braga.

Em 1903, ele, deixaria seu nome gravado para sempre à história da sua terra natal, ao escrever a letra para o “Hino Morretense”, oficialmente lançado num dia 20 de dezembro, data escolhida para a comemoração da passagem do meio século de criação da Província do Paraná.

Silveira Netto, integrado no movimento simbolista, fez publicar no Rio de Janeiro, em 1900 seu primeiro livro de versos – “Luar de Inverno”, que mereceu os maiores elogios da crítica da época. Publicou em seguida “Ronda Crepuscular” e “Margens do Nhundiaquara” Em prosa deixou “Do Guaíra aos Saltos do Iguaçu”, com impressões de viagem e exaltação às belezas naturais do Paraná. Escreveu também um ensaio sobre o poeta negro Cruz e Souza, editado em 1924.

Longe das letras era funcionário do Ministério da Fazenda, a que se dedicava com retidão exemplar. Deixou ilustre descendência: Tasso da Silveira, escritor Há pouco falecido, e mais as filhas Eleonora Silveira Lago e Eridan Silveira da Fonseca, residentes no Rio de Janeiro. Um seu irmão, Gutenberg da Silveira, e vários sobrinhos até hoje residem em Curitiba.

O poeta e escritor Silveira Netto é patrono da Escola Normal de Morretes. Faleceu a 20 de dezembro de 1942, no Rio de Janeiro, tendo os seus restos sido trasladado para Morretes em solenidade realizada a 6 de maio de 1967, depositados ao pé de um busto erigido em sua homenagem naquela cidade.





Retirado de “O Estado do Paraná” - Curitiba, terça-feira, 4 de janeiro de 1972.

MORRETES




                                                                      Por Jorge Luiz Malucelli

         Todos os povos, todas as regiões têm as suas fases de estacionamento, de retrocesso, mesmo para um dia, sob uma força estranha, um poder quase místico, incontido perceberem uma metamorfose súbita, um avançar imenso pela estrada que conduz ao progresso, a civilização, que os irão nivelando, perante os que já sentiram os seus contatos, as suas influências grandiosas e necessárias.

            MORRETES, berço de mentalidades fecundas e esplendorosas como Rocha Pombo, saudoso historiador brasileiro: Silveira Netto, Rodrigo de Freitas e outros, chegou ao termo de uma jornada fatigante e difícil, pois a data que hoje transcorre é de imenso júbilo para o povo morretense: essa tradicional cidade litorânea comemora no dia de hoje mais um aniversário de sua fundação, atingindo nesta data a avançada idade de duzentos e dezoito anos (218), sendo uma das mais antigas cidades do Paraná. Em 31 de outubro de 1733 precisamente, os oficiais da Câmara da Vila de Paranaguá fizeram a demarcação de uma área de 300 braças de terra, em nome do Rei, entregando-as então a JOÃO DE ALMEIDA, fundador de Morretes, originando-se daí a povoação morreteana, a qual foi elevada a categoria de Freguesia sob a invocação de NOSSA SENHORA DO PORTO, padroeira de Morretes, por provisão do Bispo de São Paulo em 29 de abril de 1812.

            MORRETES, sempre esperançosa, inicia agora a grande trajetória de uma terra que recebeu a mensagem de altos desígnios para o seu povo, modesto, porém, laborioso e bom.  No município de Morretes se encontram os decantados panoramas que se descortinam da Serra, a cascata do “Véu da Noiva”, os “canions” do Pico do Diabo e todos os maravilhosos, e por vezes, vertiginosos aspectos do trecho da Serra do Marumbi, fraldeado pela Estrada de Ferro assim como as florestas, as serras e os abismos que se avistam da rodovia estadual da Graciosa. Também aqui se ergue a montanha do Marumbi, cujo pico é o mais elevado do sistema orográfico do Estado com 1810 metros acima do nível do mar, e é ao qual ascendem, na estação hibernal, centenas de turistas, para contemplar o soberbo cenário que do seu cimo se descortina e se estende por mais de 100 kms. Há, nesta serra, no km 65, um local histórico em que foram fuzilados, no tempo da Revolução Federalista, alguns paranaenses ilustres. Há ainda em Morretes, um local denominado Sambaqui, onde, segundo o historiador Vieira dos Santos, assentava a sua taba o grã Cacique dos índios Carijós, que habitavam o litoral paranaense no século do descobrimento do Brasil.

            MORRETES, terra frutífera, vê-se agora enriquecida com a construção de uma Usina de Açúcar e Álcool, a qual está funcionando sob a responsabilidade de Marcos Malucelli & Irmãos Ltda. Tradicional família morreteana, na Vila Central a qual fica apenas a dois quilômetros da cidade e onde se acham localizados majestosos engenhos de aguardente com a construção já concluída e em funcionamento de um Grupo Escolar na rua 15 de novembro e ainda com o Hospital de Caridade construído na rua José Morais.

            Estão, portanto, de parabéns, todos aqueles, que, na missão sublime de engrandecer o Universo e os seus semelhantes, lutam heroicamente em prol do progresso e levantamento espiritual da terra em que vivem: e que os Céus sempre o reconhecimento e a gratidão das gerações presentes e futuras...

            SALVE, pois, MORRETES, meu recanto natal e dos meus afetos. Que, sobre ti, neste dia em que comemoras mais um ano de sua fundação, a VIRGEM NOSSA SENHORA DO PORTO, na grandeza do seu templo augusto, com magnificência de Murilo e Rafael, espalhe sempre luminosidade do seu amor, os efusivos celestes do seu coração !!!

            Salve, pois, 31 de outubro de 1951.


A Inauguração da Estrada de Rodagem Morretes-Barreiros





A Eficiente Administração Municipal do Sr. Coronel Luiz Brambilla



A COMITIVA OFICIAL – O PRESIDENTE DO ESTADO FEZ-SE REPRESENTAR, NA SOLENIDADE, PELO SECRETÁRIO DO INTERIOR E JUSTIÇA.



            Basta dizer que pela estrada de Barreiros, ontem inaugurada, a firma N. Basberi e Cia, de Morretes, embarcou no vapor “Claudia M.”, com destino à república argentina, 5.000 cachos de bananas. Outros comerciantes do próspero município, exportaram nesses últimos dias, para as Repúblicas do Rio da Prata, 5.622 cachos desse valioso produto agrícola.

            Um fato necessário a registrar é a exportação anual do município de Morretes. Atinge a 3.000 contos, soma elevadíssima, relativamente aos demais do estado. Em certos anos essa importância elevou-se a algumas dezenas de contos de reis a mais.



A Inauguração da Estrada de Rodagem Morretes-Barreiros



            A Prefeitura de Morretes, tendo à frente o espírito honesto e operoso do industrial Sr, Cel. Luiz Brambilla, trabalha com muito carinho pelo progresso do município.

            Os negócios públicos do governo da cidade são ali conduzidos com raro critério e absoluta lisura.  É suficiente essa afirmativa consoladora, que constitui o maior elogio ao ilustre prefeito Luiz Brambilla: o município de Morretes não deve nada a ninguém e possui nos cofres, regular saldo. As suas finanças estão bem equilibradas. A votação da receita e despesas são feitas a contento coletivo. O dinheiro público tem aplicação rigorosamente honesta e visa unicamente o bem-estar geral da população morretense.

            O Cel. Brambilla, homem de ampla visão administrativa, auxiliado poderosamente pelo Legislativo municipal, que age de comum acordo com o Executivo na defesa dos interesses municipais, ocupa aquele posto já há alguns anos, no qual só tem sido vitoriado pela população que o acata e aceita satisfatoriamente todas as suas decisões – sempre justas e criteriosas e vindo sempre ao encontro das aspirações populares.

            O Sr. Aguilar Moraes, nosso distinto confrade de imprensa, moço trabalhador e inteligente, na qualidade de secretário da Prefeitura e da Câmara, tem se esforçado muito, desempenhando operosa e proficientemente as suas funções.



Diário da Tarde – 29.09.1930




Romário Martins - Terra e Gente do Paraná


João de Deus Freitas – Nasceu em Morretes, devido a sua iniciativa e capitais, instalou-se na referida cidade em 1908, a primeira fábrica de papel e papelão que possuiu o Paraná e possivelmente o Brasil.

A fábrica, que funcionou sob a firma J. de Freitas &  Cia, aproveitava como matéria prima o caule do “lírio do brejo” abundante naquele município.

Mais tarde foi a fábrica adquirida por uma firma americana e depois pelo Sr. H. A. Bergan.

José Francisco da Rocha Pombo – Nasceu em Morretes , a 4 de dezembro de 1957 e faleceu no Rio de Janeiro a 26 de junho de 1933. Cerebração potente, tudo através do seu espírito e do seu temperamento assumia proporções mal pressentidas pelas inteligências comuns. Foi brilhante figura do jornalismo paranaense, fundando em Morretes, o “O Povo”, em 1879, periódico republicano; o “Diário dos Campos” em Ponta Grossa;  o “Diário do Comércio” em Curitiba. Romancista e novelista, publicou: “A Hora do Barão”, “Dadá”, “Petrucello”, “Supremacia do Ideal”, “Visões”, “A Religião do Belo”.

Foi sua a iniciativa da fundação de uma universidade em Curitiba, que chegou ao lançamento da pedra fundamental de um edifício no Largo Ouvidor Pardinho. A ideia só havia de ressurgir e então com êxito,  conduzida pelos senhores doutores Victor do Amaral e Nilo Cairo.

Rocha Pombo, em 1897, mudou para o Rio de Janeiro a sua residência. Se não o  tivesse feito não seria o nome nacional que veio a ser como professor e como autor. A sua História do Brasil em nove volumes, é o mais grandioso monumento sobre o assunto, que assinala a presença na elite cultural do país, de um grande e operoso espírito. Além desse trabalho que por si só justifica a glória de um nome, Rocha Pombo é autor de obras didáticas de história regional brasileira e de história americana. Sua contribuição nesse ramo de conhecimento, é a maior dentre autores brasileiros. Maior e mais completa.

José Gonçalves de Morais – Nasceu em Morretes a 15 de janeiro de 1849 e faleceu na mesma cidade a 21 de setembro de 1909.  Poeta e prosador de escol entre os seus contemporâneos, aos 18 anos publicou um livro de versos Semprevivas. Longos anos da sua vida escreveu para jornais e revistas paranaenses. Durante vários anos dirigiu o Almanaque Paranaense, editado pela Impressora Paranaense. Poeta e novelista, seus trabalhos igualam aos dos melhores autores nacionais. “É um homem de verdadeiro talento”, dele disse Rocha Pombo em O Paraná no Centenário. Deixou inédito um romance realista Maria Clara e numerosas poesias e contos, principalmente humorísticos, nos quais pode-se dizer que ninguém o excedeu no Paraná. Foi deputado em várias legislaturas.

            Silveira Neto (Manoel Azevedo da Silveira Neto) – Nasceu em Morretes a 4 de janeiro de 1872. Seguiu a carreira da receita federal, onde atingiu altos postos e comissões de importância como as de inspetor de alfândegas e de delegacias do tesouro nacional.

            Diplomado em Filosofia e Letras pela Faculdade do Rio de Janeiro.

            Foi um dos quatro idealistas do Cenáculo”, com Dario Velozo, Júlio Perneta e Antonio Braga.

            Antes de ingressar nas letras, seu pendor artístico foi pela pintura, em 1888, matriculando-se na Escola de Belas Artes fundada e dirigida nesse ano pelo artista português prof. Mariano de Lima. Foi-lhe proveitosa essa aprendizagem, pois a proclamação da República encontrou-o trabalhando na seção de gravura da Litografia do Comércio do prof. Narciso Filgueiras e vivendo dos modestos ornamentos desse emprego. Em 1895, já incorporado ao Cenáculo, núcleo simbolista de repercussão no país, a persistente inclinação do seu espírito pela pintura fê-lo discípulo de Alfredo Andersen, que então surgia em Curitiba com a magia do seu pincel despertando as almas sensíveis e anunciando a presença de um extraordinário artista.

            Em 1900 estava no Rio de Janeiro e aí publicava, com prefácio de Nestor Victor, a sua obra prima, o livro de versos Luar de Inverno, que emparelhou com as mais notáveis do período simbolista do Brasil, onde teve rememorável repercussão e mereceu movimentados aplausos de notáveis escritores desse tempo, tais como Artur Azevedo, Medeiros de Albuquerque, Veiga Miranda, Frota Pessoa, João Itiberê (Ivan d’ Unac), Hélio Morais Filho, Andrade Muricy e outros cultores da crítica literária.

            Fundou várias revistas no Paraná, a começar pela A Luta, com Manoel Perneta (seu primeiro ensaio na imprensa) ; O Guaraní, revista ilustrada, com Augusto Stresser; Turris Eburnea, com Romário Martins: Pallium, com Julio Perneta.

            No ano em que publicou Luar de Inverno (1900), publicou também Antônio Nobre, uma elegia do poeta triste de Portugal, - em luxuosa plaquete ilustrada pelo seu lápis destro e delicado. Em 1912 publicou Do Guaíra aos Saltos do Iguaçú, o melhor livro, até então, sobre as duas famosas cachoeiras paranaenses. Em 1913 escreveu uma elegia comemorativa do felecimento do notável compositor e pianista paranaense, o diplomata Brasílio Itiberê da Cunha, - musicada pelo maestro Léo Kesler e cantada, com grande sucesso, em Curitiba. Em 1914 tinha pronto o libreto de uma tragédia O Bandeirante, que Augusto Stresser poria em música, o que não aconteceu por prematura morte do compositor.

            Mais três livros de Silveira Neto: Ronda Crepuscular (versos) ; Palavras de Hoje (prosa) ; e O Sonho de Cresus (poema).

           



Paulo Assunção (Paulo Ildefonso d’Assunção) – Fez o curso da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. De regresso a Curitiba, sua cidade natal, fundou o Conservatório de Belas Artes do Paraná, que conseguiu manter por vários anos.

            Criadas as Escolas de Aprendizes Artífices na presidência Nilo Peçanha, a Paulo Assunção foi confiada a direção da do Paraná. Tal foi a organização dada pelo devotado e ilustre paranaense ao estabelecimento, que essa organização foi adotada pelo governo federal para todas as escolas similares do país, e Paulo Assunção comissionado para fazer a necessária adaptação nos estados do Nordeste e Norte da República.

            Era cronista e crítico de arte, e ninguém o excedeu, no Paraná, nesse campo de cultura especializada.

            Autor dramático de mérito, jornalista elegante e de vastos recursos; professor, elemento social raro e brilhante.

            Seu desaparecimento em 1928, encerrou na sociedade curitibana um período dos mais distintos, do qual fora Paulo Assunção o animador sem contraste.

            Fernando Amaro de Miranda – Nasceu em Paranaguá em 1832 e faleceu em Morretes em 1857. Poeta, não fez senão cantar até morrer aos 25 anos de sua vida. Publicou em 1954 um livro, Pulsações da Minha Vida e Leôncio Correia conseguiu editor para um outro, cremos que em 1896. Além desses foi impresso pelo autor, o poemeto Armia, que parece conter os seus melhores versos. Teve bons biógrafos e críticos em Silveira Neto e Santa Rita Júnior.

            Antonio Ribeiro de Macedo – Nasceu a 15 de fevereiro de 1843, em Morretes, na então povoação de Porto de Cima, sobre cuja localidade escreveu uma interessante monografia.

            Foi escritor de relevo no seu tempo, sempre preocupado com assuntos ligados à defesa e ao progresso do Paraná.

São de sua autoria: Questão Social, A Miséria é ou não possível de evitar;  Questão de Limites entre Paraná e Santa Catarina; Questão Econômica; Salvai o Paraná (opúsculo sobre a Erva-Mate) ;  Breves Informações sobre a Província do Paraná (publicadas na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro)

Como jornalista editou e dirigiu “O Progresso”, em Antonina; e colaborou assiduamente nos principais jornais de Curitiba. Seus artigos sempre objetivaram altos assuntos de real interesse regional, nacional e humano, e foram geralmente acatados pelos seus concidadãos. Sua obra de escritor lhe deu entrada no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Instituto Histórico e Geográfico Paranaense e Associação Paranaense de Imprensa.



 (Romário Martins - Terra e Gente do Paraná)




PEDRA FUNDAMENTAL DO ORFANATO


Curitiba – 4ª feira, 11 de julho de 1951

NOTÍCIAS DE MORRETES


(Do Correspondente)

Com a presença  do exmo. Sr. Arlindo de Castro Prefeito Municipal, do Rvmo. Pe. João Camargo, Vigário da Paróquia, da exma. Sra. Maria Trindade M. Villanova, Presidente da Pia União Santo Antônio, e de outras autoridades e elevado público, teve lugar na manhã de domingo último a cerimônia de lançamento da pedra fundamental do edifício do Orfanato Santo Antônio, cuja construção se inicia no terreno da rua Cel. Modesto, ao lado da Igreja Matriz.

            De início, as senhoras madrinhas, em número de quarenta, seguraram a corrente simbólica, tendo o Rvmo. Vigário feito a bênção do local. O Sr. Marcos Luiz De Bona em nome da congregação Mariana, saudou os idealizadores da meritória obra, falando em seguida o Rvmo. Pe. Artidório Aniceto de Lima, Missionário do Sagrado Coração, cuja oração foi um hino de louvor aos sentimentos cristãos do povo de Morretes. Aliás, este Missionário e mais o outro integrante das Missões, Rvmo Pe. Elias, conquistaram o coração dos morretenses na piedosa desincumbência aos mesmos atribuída de espargirem os raios da fé e de assistirem espiritualmente o povo, praticando ainda ações e obras em benefício do próximo.

            O terceiro orador foi o senhor Arlindo de Castro, que em nome dos poderes públicos se congratulou com a notável iniciativa.

            No cofre de pedra foi depositado um pergaminho com os nomes das madrinhas e palavras alusivas ao ato, tendo as autoridades e o Órfão José Armando Gonçalves lançado as primeiras colheres de massa na base do edifício sob vibrantes salva de palmas.

            No decorrer dos discursos foram feitas merecidas referências as seguintes pessoas que de uma forma e de outra vêm contribuindo para a consecução deste desinteratum, com o apoio espontâneo dos habitantes do Município. Rvmo. Pe. João Camargo, Deputado Federal Dr. Lauro Lopes, Sr. Humberto Malucelli, Sras Maria T. Villanova, Maria Bridaroli Malucelli, Marieta França, Gessy Pinto de Jesus, Judit B. Malucelli, e Zilda Gomes Cavagnolli, Srs. Adalberto Villanova , Sebastião Cavagnolli e João Scremin.


UMA TATUADA QUE REDUNDA EM CRIME




Lamentável Episódio em Morretes



MORRETES  ( Da Sucursal)

À meia-noite de sábado, registrou-se nesta cidade atroz crime, praticado por três rapazes de fora, que aqui pretendiam, segundo declaram, efetuar uma caçada de tatus.

Para esse fim, traziam eles, dentro dum saco, dois cabos, um de picareta, outro de cortadeira e mais algum material.

Residem eles em Curitiba e chamam-se Emelino Fanini, João e Donato Neumann.

Relatemos o fato, segundo o depoimento de uma das principais testemunhas, cujas declarações parecem conter toda a verdade, visto serem confirmadas por outras;

À meia-noite de sábado desembarcaram do trem de carga que chegou àquela hora os ferroviários Gracia, um seu companheiro cujo nome não pudemos anotar e Olívio Manoel Pinto, este último guarda-freios muito estimado na classe ferroviária, casado, residente nesta cidade, genro do conhecido artista-marceneiro, Sr. Nestor Miranda.

Ao se aproximarem da rua 15 de novembro, na esquina da Casa Maia, foram os ferroviários interpelados por uma mulher da vida alegre, de nome Olga Tasso da Silva, a qual queria saber se o seu amigo Jesus de Tal também tinha vindo naquele trem.

Nisto aproximam-se do pequeno grupo três rapazes desconhecidos, que, com ar de deboche, perguntaram onde se podia dormir.

Olívio Manoel Pinto encarregou-se de responder, citando os hotéis da cidade, mas, a cada hotel mencionado, um grupo respondia que não tinha mais lugar, ao que Olívio respondeu que então se arranjassem.

Perguntaram então os rapazes onde tinha uma casa de mulheres da vida.

Olívio respondeu que não sabia, que procurassem. Então um dos do grupo disse já exaltado: “pois se você é um “caf-tan” como não saberá onde tem?”.

Ofendido com estas palavras, Olívio ameaçou replicar com uma lanterna que tinha nas mãos. Incontinenti os três do grupo entraram a provocar Olívio e os seus dois companheiros, originando-se daí troca de alguns empurrões e lanternadas, quando em dado momento, um dos do grupo, usando o cabo da picareta, deu fortíssima pancada à traição na nuca de Olívio, prostando-se por terra gravemente ferido.

Correram ao local populares e polícia que efetuou a prisão dos desordeiros e removeu o ferido para a farmácia mais próxima onde foram-lhe ministrados os primeiros curativos.

A propósito do lamentável ocorrido, o Sr. Gustavo Richter, 1º Suplente de Delegado de Polícia em exercício, abriu rigoroso inquérito.

Durante o dia de ontem foram tomados por termos, pelo Sr. Clemente Consentino, Escrivão do Crime, os depoimentos dos protagonistas da ocorrência e das principais testemunhas.

A vítima, cujo estado é deveras melindroso seguiu domingo à tarde para Curitiba, a fim de se submeter a exames de Raio X, etc. Escrevendo mais esta página negra do noticiário policial da cidade, estivemos pensando na necessidade que se faz sentir aqui de melhor policiamento pois o destacamento local conta apenas com o sargento comandante e mais duas praças, o que é absolutamente insuficiente, porque se de um lado o nosso povo é ordeiro, doutro o fato de ser Morretes um entroncamento da Estrada de Ferro e de rodagem, importa na presença frequente de elementos estranhos e maus, muito perigosos para a sociedade.

Eis porque apelamos para a Chefia de Polícia do Estado atenda aos pedidos já formulados pela Delegacia local, para a vinda de maior número de mantenedores da ordem.

N. R – Ontem, pelo trem misto procedente de Morretes, chegou a esta capital Olívio Pinto, vítima da brutal agressão, achando-se internado na Casa de Saúde Erasto Gaertner, em estado grave, pelo que não foi possível às nossas autoridades policiais tomar as suas declarações.


A INUNDAÇÃO TIROU O CRIMINOSO DA TÓCA!




Por reagir à voz de prisão, a polícia de Paranaguá e Morretes matou o assassino do Delegado

Aragô Moraes

Morretes, 21 (Do nosso Correspondente) – O Sr. Pacifico P. Zattar, que no momento acumula os cargos de Prefeito Municipal e Delegado de Polícia, forneceu-nos informes sobre a captura de Paulo Kuróski, covarde assassino de Aragô Morais.

Relatemos o fato :

Desde a perpetração do crime que Paulo Kuróski estava foragido. A Polícia de todo Estado estava ativamente no seu encalço, dando-nos a impressão de que não falharia em hora tão precisa.

E assim aconteceu. Sábado último às 9 horas da manhã, Espírito José da Silva, inspetor policial de Candonga, deste município, avistou o criminoso naquela zona, mandando avisar o delegado Zattar e seguindo de longe a pista do delinquente.

Ipso fato, a nossa autouridade comunicou-se pelo telefone com as autoridades de Paranaguá e Curitiba, vindo incontinente da primeira cidade um numeroso destacamento policial , sob o comando pessoal do Ten. Aristides Rodrigues da Silva.

Daqui partiram, em quatro automóveis, o destacamento local, mais alguns civis, inclusive um irmão e cunhado da vítima, todos muito bem armados e municiados. Dispostos a tudo para fazer prevalecer a Justiça.

No lugar “Passa Sete”, em que se sai da estrada de Paranaguá para entrar na região do Rio Sagrado, encontraram-se as forças de Paranaguá e Morretes, sendo aí feita a distribuição dos homens que marcharam por caminhos dificultosos.

Cada grupo de homens levou um guia, conhecedor da região, sendo que a maior escolta seguiu a região mais provavelmente trilhada pelo criminoso.

Partindo pela Pedra Branca, passou essa escolta pelo Morro Alto, atingindo a Limeira.

Em seguida rumaram para Ribeiro Grande, pois com perspicácia, já havia o comandante da escolta, Manoel Ribeiro dos Santos, percebido vestígios da passagem de Paulo Kuróski.

Ao chegarem na casa de Generoso Agostinho, foi revelado à escolta que o criminoso poderia estar num barracão abandonado distante 200 metros dali.

O guia do grupo, Manoel Nogueira (Poly), levou os homens na direção indicada, sendo imediatamente cercado o barracão.

À aproximação lenta, foi pressentida a presença do criminoso naquela casa abandonada. Estava deitado, naturalmente exausto.

Recebeu de longe voz de prisão, em resposta a qual os representantes da justiça receberam um tiro, que felizmente não atingiu ao alvo.

Em represália, os homens da escolta detonaram as suas armas contra o criminoso. Estabeleceu-se um tiroteio que foi breve, pois um tiro certeiro dado por um dos soldados, apanhou em cheio o criminoso, matando-o instantaneamente.

Na impossibilidade de transportarem o corpo em que estavam (Furta-Maré) para Morretes, a escolta providenciou a ida do corpo para Guaratuba, onde foi sepultado.

Das diversas escoltas existentes no litoral, aque exterminou a vida do perigoso assassino era composta dos seguintes homens:    - Mario Ribeiro dos Santos, Juveniano de Paiva, Antonio Correia, José Galdino (Praxédes), Generoso Agostinho, Antonio Francisco, Manoel Nogueira, Lino de Freitas e um moço pintor de casas, cujo nome não pudemos anotar.

A morte do criminoso foi comunicada às autoridades competentes, sendo que, em virtude disso, a sua mulher Nély, que se achava presa em Paranaguá, será solta.

E assim foi que a enchente do dia 19 auxiliou o extermínio de Paulo Kuróski, porque este, ao que tudo indica, estava em um lugar muito seguro, só sendo obrigado a abandoná-lo em virtude das águas que subiram.

E a sociedade ficou livre desse indesejável elemento, graças aos esforços de todas as autoridades.

A sua mulher Nély que, como se sabe, instigou o marido à prática de crime, é também uma pessoa indesejável em Morretes, razão porque a sua mudança para outro lugar é aqui aceita com satisfação.

Morretes – 22/03/1938.

Ainda o Crime de Morretes



Falecimento da Vítima

(18.03.1938)



Morretes, 17 (Do nosso correspondente) – Às 2:30h da madrugada de ontem, faleceu na Santa Casa de Misericórdia, a despeito de todos os recursos médicos, o inditoso senhor Aragô Moraes, vítima da perversidade do senhor Paulo Kuróski. O seu ferimento, alíás, era de natureza gravíssima, só cabendo esperança do seu salvamento aos que, pelo grande amor devotado, procuravam iludir-se a si próprios. O seu corpo foi transportado para esta cidade em automóvel, aqui chegando às 15:00h.



Os Funerais

            Até o momento em que escrevemos estas linhas, não foi realizado ainda o funeral, que está marcado para as 17:00h. O povo, porém, já se aglomera em frente à residência do extinto, fazendo-nos crer que o acompanhamento do caixão mortuário será uma verdadeira apoteóse.

            No cemitério , faltará o Sr. Adalberto Brambilla.



Comércio Fecha as Portas



            Das 16:30h às 18:00h o comércio em peso fechará as portas em homenagem ao extinto.  Todos os comerciantes e indústrias locais assinaram uma lista propondo-se a essa última homenagem a Aragô Moraes.







As Autoridades e Médicos



            Grande foi o esforço de todas as autoridades e médicos para salvar o ferido e capturar o criminoso. A falta de espaço não permite destacar nomes, porém, todos sabem que o povo morretense lhes agradece.



O Extinto



         Aragô Moraes tinha 41 anos de idade. Inteligente e trabalhador, grangeou a estima e o respeito de todos. Lutador, não esmorecia ante as dificuldades da vida.  Quando a morte o colheu, satisfazia na Prefeitura Municipal a serviços extraordinários, o que lhe dava modesto rendimento. Como delegado de Polícia, não era remunerado, como não o são todos os delegados do Interior. Agora aguardava a sua nomeação de analista bromatológico da aguardente. Deixa viúva Dª Ester Simões Moraes e na orfandade dos seguintes filhos menores: Atevita, Aliéte, Aroldo, Azilde, Anele e Arizon.  Era irmão do Sr. Aguillar Moraes, do Sr. Agassiz Moraes, funcionário publico estadual e da Sras. Aliete M. Joanides e Ady M. Rubele.



Ainda Foragido



            Ainda não foi preso o assassino.

A polícia do Estado continua ativamente no seu encalço.











           

Uma Noite de Sangue






Novos detalhes da impressionante tragédia em Morretes



MORRETES 16. 03. 1938 (Do nosso correspondente) – Perdura ainda no espírito público o impressionande crime de ontem à noite, do qual foram protagonistas Paulo Kuróski, mecânico e Aragô Morais, Delegado de polícia, a vítima. O crime revoltou pela irresponsabilidade do autor que não trepidou em alvejar mortalmente uma autoridade de proficiente, honrado pai de família, pessoa enfim estimada por todos em Morretes.



O Crime



         Aproximadamente à 1:30 h da noite de 15 para 16 do corrente, o senhor Aragô Morais, acabava de fazer uma difícil diligência, que relataremos adiante, quando, após ter estado um momento no Bar Nhundiaquara tomando café, regressou para a sua residência. Antes porém de atingi-la, ao dobrar a esquina da casa Maia, o delegado deparou com o mecânico Paulo Kuróski que sem mais preâmbulos sacou da sua arma e alvejou-o com um tiro. A bala não atingiu o alvo, dando lugar a que o delegado sacasse também da sua arma e desfechasse contra o seu desafeto. Estabeleceu-se o tiroteio e, como o me caniço estivesse melhor colocado pois premeditara o crime, atingiu com um dos seus tiros o pescoço do Delegado. O ferimento foi mortal. O projétil penetrou na medula, interessando a espinha dorsal. O Sr. Aragô caiu em consequência desse grave ferimento, enquanto que o criminoso fugia para lugar ignorado.

As autoridades



         Ao que se sabe até agora, nenhuma pessoa foi testemunha ocular do fato. Porém havia gente perto que correu imediatamente em socorro da vítima, recolhendo-a à sua residência, avisando o Prefeito Zattar e tomando os primeiros cuidados médicos. O Prefeito Zattar comunicou-se imediatamente com as autoridades de Curitiba, Paranaguá e Antonina. Tem sido elogiável os esforços de todos de capturar o autor do crime.



A vítima e seu estado



         A vítima, como dissemos, é o senhor Aragô Morais, competente Delegado de Polícia de Morretes, casado com Dª Esther Simões Morais, irmão dos Srs. Aguilar Agassiz e da Srª Aliete Morais. O seu estado, até o momento em que escrevemos estas linhas continua inspirando sérios cuidados.

         Está em Curitiba para onde o levaram para o exame radiográfico e extração do projétil.



O autor do Crime



Paulo Kuróski é mecânico, casado com Dª Nélly Kuroski, apesar de ser tido como um tanto violento, contava com amizades em virtude do seu constante bom humor. O crime que praticou e que com tanta veemência o povo morretense deplora, impõe que seja plenamente esclarecido nos seus motivos para que a justiça se faça sentir em toda a sua plenitude.

Foragido



         Até o momento em que escrevemos estas linhas, não havia sido efetuada a prisão do criminoso.



Causas do Crime

        

Questões de pouca importância entre vizinhas, agravadas depois com disque-disques, fizeram com que Paulo Kuróski exigisse da Delegacia de Polícia, a prisão da esposa do Sr. José da Costa e uma das suas filhas. Como a delegacia não pudesse agir dessa forma sem praticar uma violência, pois não havia provas concretas sobre o alegado, apenas diligenciou a respeito, o que descontentou Paulo Kuróski, originando-se daí, a sua raiva do Delegado de Polícia, que culminou com a tragédia de ontem.



Outro Fato



         Outro fato registrado na mesma noite do crime, foi a de um roubo de uma taboa no quadro da Estrada de Ferro, cometido por Ramon Hespanhól. O Roubo foi presenciado pelo guardião Bertolino Cardoso que gritou para o “gato” largar a taboa. Como este não atendesse, o guardião armou-se de uma espingarda, descarregando uma carga de chumbo nas suas pernas.

         Sobre este fato a Estrada de Ferro abrirá inquérito. Se de um lado o Sr. Bertolino agiu no cumprimento de sua obrigação, d’outro agiu, ao nosso ver, com violência, pois o caso não requeria o meio empregado. O estado de Ramon Hespanhól é um tanto melindroso, visto que a carga de chumbo atingiu em cheio as suas pernas, indo causar-lhe talvez um aleijamento. Está para ser esclarecido também, se é permitido, por quem de direito, o uso de armas de fogo num quadro de estação completamente aberto, como é o de Morretes, onde transita livremente e em qualquer hora qualquer pessoa.