- Marcos Luiz De
Bona-
Em seu retiro na Fazenda do Morro Grande
no Rio do Nunes, em Antonina, sua terra natal, o septuagenário Bernardo
Gonçalves Moreira de seança de uma vida dignificada pelo trabalho, pela
honradez e pela bondade.
A passagem por Morretes desse vulto paranaense, foi em todos
os sentidos benéfica para a nossa cara cidade. Foram 15 dedicados ao progresso
industrial, à elevação cultural, social e cívica da terra nhundiaquarense.
Bernardo Moreira era um cidadão devotado à sua terra, mas
emigrou para Buenos Ayres em busca de maiores horizontes para o seu espírito
empreendedor. De regresso à Pátria, veio casado com a exma. Senhora Honorinda
Insua, de descendência uruguaia, vindo também em sua companhia pessoas que aqui
tiveram depois grata convivência social: seu cunhado José Maria Insua, seu
sogro Sr. Manoel e a tia de sua esposa, dona Madalena Cruzado, que veio a
consorciar-se com o Sr. Arsemene Porrua.
Em 1914, arrendando o Engenho de Mate do Sr. Arsenio
Gonçalves Cordeiro, desenvolveu sua atividade no local onde é hoje a Química da
firma Malucelli. Transferiu-se para Curitiba para trabalhar no engenho do
Banco, mas desejando morar definitivamente em Morretes, arrendou o engenho “de
cá”, isto é, aquele que ficava antes do
engenho do falecido Arsenio, na mesma estrada para o cemitério. Por esse tempo,
Florenço Rocha havia deixado de exercer suas atividades industriais no mesmo
local. Em seu novo estabelecimento, Bernardo
Moreira foi feliz e pode com esse resultado dar início à construção do futuro
prédio de alvenaria na rua General Carneiro. Trabalharam ali nos serviços de
Alvenaria, o Sr. Nicola Grossi, como chefe, e ainda Sebastião Dolfato, Cezar
Alpendre e outros. Na parte dos carpinteiros, Marcos Turim, como chefe, e ainda
Euclides Freitas, João Poli, João Adolfo e outros. O saudoso Marcos Turim veio
a ser compadre e amigo íntimo do proprietário.
Concluída a fábrica, passaram à mão de obra de um grande
armazen, ao lado, bem como iniciaram os alicerces da futura casa residencial à
rua Visconde do Rio Branco. Por conveniências do momento, o prédio do armazém
ficou modificado para residência, aliás resultou uma bela e ampla casa,
abandonando-se os alicerces da residencial que hoje ainda existem e foram vendidos,
inclusive o terreno, para o Sr. Sanson.
Transferidas todas as atividades de Bernardo Moreira para os
estabelecimentos da rua General Carneiro, organizados os seus negócios que
passaram a ter marcha normal, pode ele e sua exma. Esposa dedicarem grande
parte do seu tempo às causas públicas de nossa terra. Assim é que o vemos como
Presidente e sócio benemérito do clube 7 de Setembro, que conserva em sua sede
um retrato seu ao lado de Luiz Brambilla e de Rodrigo de Freitas; vemo-lo
dirigindo o Tiro de Guerra 70, de
gloriosas tradições, tendo sido construtor da linha de Tiro no terreno cedido
pelo Sr. Daleuqui; vemo-lo em 12 de
dezembro de 1925, como Metteur en Scene, juntamente com Clemente Consentino, no
Grupo Dramático, para a representação de “Cenas da Miséria” e “Fotógrafos em
Apuros”; admiramos-lhe como animador da
Banda Musical Euterpina; como padrinho e sua esposa como madrinha, na reforma
dos sinos da Igreja Matriz; como o maior contribuinte para a construção da
escada grande da Matriz; como organizador dos escoteiros, fazendo ir à frente
os pecorruchos Manoelito Nogueira e Dorival Porrua; vemo-lo ainda no desempenho
de inúmeras funções públicas e como cidadão sempre procurado para as
iniciativas em que fossem necessárias as ajudas dos homens válidos da cidade.
A sua atuação como Presidente do Tiro de Guerra se
caracterizou pela presença a que deu ensejo de destacadas figuras do Exército
Nacional. Por ocasião dos exames dos futuros reservistas, não permitia que os
oficiais fossem para o Hotel. Haviam de se hospedar em sua casa. Por ali
passaram os então tenentes Catão, Dedier, Granville, João Gualberto, França
Gomes e outros. O major Rego Barros, com sua Secção de Metralhadoras, certa vez
escolheu a chácara do Sr. Bernardo, onde hoje está a propriedade dos Freitas,
para um acampamento e combate simulado. O General Fontoura, foi hóspede por
vários dias do benquisto casal.
Na política, sofreu Bernardo Moreira uma derrota motivada
pelas circunstâncias, candidatando-se a prefeito por imposição de um grupo de
amigos seus, nas eleições de 1920, não logrou destronar Romulo Pereira que era
por assim dizer Prefeito Perpétuo de Morretes e que tinha o apoio do Governo.
Isso entretanto em nada diminuiu o grau de consideração e estima que gozava,
tanto assim que Romulo Pereira, reconhecendo nele o homem capaz e probo,
continuou a dedicar-lhe a mesma velha amizade, tendo-o confiado uma grande
incumbência: a de organizar e dirigir todo o programa de festejos e
ornamentações do Centenário da Independência.
Um lamentável incêndio destruiu em 1924 esplêndida indústria
do preclaro Cidadão Morretense, abatendo-lhe em parte o ânimo forte, logo porém
restabelecido. Transferindo a residência para a terra Natal, foi Prefeito
Municipal da sua Antonina no delicado período de transição entre o regimen
Estadonovista e o da redemocratização do país. Hoje permanece em sua Fazenda,
saudoso de sua virtuosa esposa falecida há poucos anos e por certo de espírito
e ânimo alevantado pela satisfação do dever cumprido.