Texto de Ennio Monção Pires
A
Empolgante história da terra do historiador Rocha Pombo – Os grandes
estadistas, poetas, jornalistas, escritores, artistas, cientistas, militares,
engenheiros, advogados, filhos daquele bi-centenário torrão – Fundado o
Instituto Histórico e Geográfico de Morretes
Pelo admirável rio paranaense viajou, em 1880, até Morretes,
S. Majestade Imperial D. Pedro II – O repórter no quarto onde dormiu, duas
noites, naquela cidade, o mais sábio e democrático (não obstante Imperador) de
nossos governantes.
Um dos mais requintados prazeres
espirituais, um dos mais sutis e esplêndidos gozos intelectuais consiste, não
há dúvida, muitas vezes, em penetrarmos determinados e encantadores umbrais da
História, - sobretudo desta História que, caracteristicamente nacionalista,
fala dos grandes fatos e dos soberbos vultos da Pátria imensa. E não é
simplesmente e exclusivamente, nos centros de estonteante progresso, nas
deslumbradoras metrópoles, nas extraordinárias esferas cosmopolitas, que o
espírito mergulha, maravilhado, nas cristalinas e refrescantes águas da
História. Em plena hinterlândia, nas cidades adormecidas e rudes e feias, por
vezes nas suas exteriores e superficiais características, mas belas, de uma
emocionante e espiritualística beleza, na sua empolgante vetustez, nos séculos
que lhe imprimem aspectos de uma expressividade sem par, - é nessas cidades,
nimbadas da luz do tempo e da Glória, pela etérea e perenal presença de seus
filhos ilustres, que temos o finíssimo, o incalculável prazer de entrar em
contato com o Passado.
EM MORRETES, NO QUARTO EM QUE DORMIU
D PEDRO II
Em nossa
missão jornalística e sob a imposição de variados interesses, estamos
constantemente a fugir do metropolitano afalto do pisca pisca dos gigantescos
luminosos da frebrieitante agitação das cadilaquonas artórias – para a
magnífica placidez interiorana, para a vida silenciosa ensimesmada e anônima
das pequeninas cidades (pequenas e rudes no seu primitivismo urbanístico mas
admiravelmente grandes de uma singular importância, na simplicidade e na
ausência de nevrosados complexos, na ausência de traumatizante preocupações de
seus habitantes).
Numa dessas
constantes e recentes fugas de asha verus
da Imprensa, de ergastulado da inteligência, estivemos na bi-centenária
Morretes, torrão berçal de Rocha Pombo, do simbolista Silveira Netto, do
imperial estadista, Manoel Alves de Araújo, do jornalista João Rodrigo de
Freitas, do internacional escultor João Turim, do Almirante Frederico de
Oliveira, do engenheiro Odair Grillo, do advogado Antonio Picardi e de
numerosos outros gloriosos nomes – distante, Morretes apenas duas horas e meia,
via férrea, desta já Centacular Curitiba.
E ali,
naquela cidadezinha, fundada por João de Almeida, e esplêndida nos seus
duzentos e vinte e dois anos de existência, - imergimos, fascinados, o espírito
num Passado verdadeiramente augusto. E nos deliciamos de corpo presente com a
História.
Acontece que
lá pelos idos de 1880, o Imperial D. Pedro II acompanhado de D. Tereza
Caletina, subiu, de tancha o rio Nhundiaquara (então francamente navegável),
até Barreiros – ou Porto de Barreiros, o primeiro porto paranaense – e dali, de
bateião prosseguiu até Morretes. Chegando a Morretes (na época, Nossa Senhora
do Porto dos Morretes), D. Pedro II e sua comitiva desembarcaram pelo portão de
acesso da residência do senhor Joaquim Alves, grande hervateiro, e em cuja casa
está atualmente instalada a Coletoria Estadual daquele município. Subiu, então,
S. Majestade Imperial pela escadaria ali existente e que desce até o rio. Vimo-la a eminentemente histórica escadaria.
E temados de extraordinária emoção, estivemos naquela casa, no quarto em que
dormiu D. Pedro II, hóspede que foi do Comendador Joaquim Alves.
Presume-se,
aliás, segundo a tradição oral, que D. Pedro II tenha permanecido dois dias em
Nossa Senhora do Porto dos Morretes, dali prosseguindo para esta Capital,
Palmeira e Ponta Grossa, fazendo este itinerário por terra, possivelmente a
cavalo.
D. Pedro II na Matriz
de Morretes
Folheando o 3º livro de Tombo da Paróquia de Morretes , isso graças a
gentileza do Padre João Camargo, vigário local, - e homem assaz inteligente e
culto – tivemos oportunidade de verificar que a 4 de junho de 1880 –
precisamente há setenta e cinco anos, - D. Pedro II e a imperatriz D. Tereza
estiveram em visita à Igreja Matriz de Morretes. Isso confirma
indubitavelmente, a presença naquele ano da presença de D. Pedro II na mais de
duas vezes centenária cidade banhada pelo Nhundiaquara, importantíssimo centro
d’água que mereceu este cântico soneleante de Adolfo Werneck:
“ Magno rio! Tal qual
uma serpente
curva, fazendo curvas,
a rolar,
vais confundir tua vaga
transparente
à verde-escura
ondulação do mar.
“ Ao contemplar-te,
majestoso, a gente
de súbito se deixa
arrebatar,
e – Ofélia – vais do
gosto da corrente,
belos sonhos azuis a
edificar.
“ Soberbo rio! Ó rio
Nhundiaquara,
não creio se suplante o
próprio Nilo,
sem flóreas margens,
sem tua linja clara.
“ O coração semelhas
com tuas águas,
ora, sonhando, a
deslizar tranquilo ...
ora rugindo em
convulsões de máguas!...
INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MORRETES
De tal subido valor é o acervo de pletéritas, de homens e
fatos tocados de arrebatador tradicionalismo de Morretes: tão admirável, tão
rica, tão substanciosa é a História daquela pequenina grande terra – que, além
de outras instituições de sua imaressível vetustez, foi fundado, aliás, dia 23
de abril próximo passado, o Instituto Histórico de Morretes! Tem como
presidente: Padre João Camargo, vigário da paróquia local; como vice
presidente, nada menos do que um autêntico historiador, um estupendo
pesquisador de tudo o que diz respeito ao Passado – o Augusto Kubash, também
pertencente ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e que reside no
interior do município de Morretes.