sexta-feira

UMA TATUADA QUE REDUNDA EM CRIME




Lamentável Episódio em Morretes



MORRETES  ( Da Sucursal)

À meia-noite de sábado, registrou-se nesta cidade atroz crime, praticado por três rapazes de fora, que aqui pretendiam, segundo declaram, efetuar uma caçada de tatus.

Para esse fim, traziam eles, dentro dum saco, dois cabos, um de picareta, outro de cortadeira e mais algum material.

Residem eles em Curitiba e chamam-se Emelino Fanini, João e Donato Neumann.

Relatemos o fato, segundo o depoimento de uma das principais testemunhas, cujas declarações parecem conter toda a verdade, visto serem confirmadas por outras;

À meia-noite de sábado desembarcaram do trem de carga que chegou àquela hora os ferroviários Gracia, um seu companheiro cujo nome não pudemos anotar e Olívio Manoel Pinto, este último guarda-freios muito estimado na classe ferroviária, casado, residente nesta cidade, genro do conhecido artista-marceneiro, Sr. Nestor Miranda.

Ao se aproximarem da rua 15 de novembro, na esquina da Casa Maia, foram os ferroviários interpelados por uma mulher da vida alegre, de nome Olga Tasso da Silva, a qual queria saber se o seu amigo Jesus de Tal também tinha vindo naquele trem.

Nisto aproximam-se do pequeno grupo três rapazes desconhecidos, que, com ar de deboche, perguntaram onde se podia dormir.

Olívio Manoel Pinto encarregou-se de responder, citando os hotéis da cidade, mas, a cada hotel mencionado, um grupo respondia que não tinha mais lugar, ao que Olívio respondeu que então se arranjassem.

Perguntaram então os rapazes onde tinha uma casa de mulheres da vida.

Olívio respondeu que não sabia, que procurassem. Então um dos do grupo disse já exaltado: “pois se você é um “caf-tan” como não saberá onde tem?”.

Ofendido com estas palavras, Olívio ameaçou replicar com uma lanterna que tinha nas mãos. Incontinenti os três do grupo entraram a provocar Olívio e os seus dois companheiros, originando-se daí troca de alguns empurrões e lanternadas, quando em dado momento, um dos do grupo, usando o cabo da picareta, deu fortíssima pancada à traição na nuca de Olívio, prostando-se por terra gravemente ferido.

Correram ao local populares e polícia que efetuou a prisão dos desordeiros e removeu o ferido para a farmácia mais próxima onde foram-lhe ministrados os primeiros curativos.

A propósito do lamentável ocorrido, o Sr. Gustavo Richter, 1º Suplente de Delegado de Polícia em exercício, abriu rigoroso inquérito.

Durante o dia de ontem foram tomados por termos, pelo Sr. Clemente Consentino, Escrivão do Crime, os depoimentos dos protagonistas da ocorrência e das principais testemunhas.

A vítima, cujo estado é deveras melindroso seguiu domingo à tarde para Curitiba, a fim de se submeter a exames de Raio X, etc. Escrevendo mais esta página negra do noticiário policial da cidade, estivemos pensando na necessidade que se faz sentir aqui de melhor policiamento pois o destacamento local conta apenas com o sargento comandante e mais duas praças, o que é absolutamente insuficiente, porque se de um lado o nosso povo é ordeiro, doutro o fato de ser Morretes um entroncamento da Estrada de Ferro e de rodagem, importa na presença frequente de elementos estranhos e maus, muito perigosos para a sociedade.

Eis porque apelamos para a Chefia de Polícia do Estado atenda aos pedidos já formulados pela Delegacia local, para a vinda de maior número de mantenedores da ordem.

N. R – Ontem, pelo trem misto procedente de Morretes, chegou a esta capital Olívio Pinto, vítima da brutal agressão, achando-se internado na Casa de Saúde Erasto Gaertner, em estado grave, pelo que não foi possível às nossas autoridades policiais tomar as suas declarações.