sexta-feira

Uma Noite de Sangue






Novos detalhes da impressionante tragédia em Morretes



MORRETES 16. 03. 1938 (Do nosso correspondente) – Perdura ainda no espírito público o impressionande crime de ontem à noite, do qual foram protagonistas Paulo Kuróski, mecânico e Aragô Morais, Delegado de polícia, a vítima. O crime revoltou pela irresponsabilidade do autor que não trepidou em alvejar mortalmente uma autoridade de proficiente, honrado pai de família, pessoa enfim estimada por todos em Morretes.



O Crime



         Aproximadamente à 1:30 h da noite de 15 para 16 do corrente, o senhor Aragô Morais, acabava de fazer uma difícil diligência, que relataremos adiante, quando, após ter estado um momento no Bar Nhundiaquara tomando café, regressou para a sua residência. Antes porém de atingi-la, ao dobrar a esquina da casa Maia, o delegado deparou com o mecânico Paulo Kuróski que sem mais preâmbulos sacou da sua arma e alvejou-o com um tiro. A bala não atingiu o alvo, dando lugar a que o delegado sacasse também da sua arma e desfechasse contra o seu desafeto. Estabeleceu-se o tiroteio e, como o me caniço estivesse melhor colocado pois premeditara o crime, atingiu com um dos seus tiros o pescoço do Delegado. O ferimento foi mortal. O projétil penetrou na medula, interessando a espinha dorsal. O Sr. Aragô caiu em consequência desse grave ferimento, enquanto que o criminoso fugia para lugar ignorado.

As autoridades



         Ao que se sabe até agora, nenhuma pessoa foi testemunha ocular do fato. Porém havia gente perto que correu imediatamente em socorro da vítima, recolhendo-a à sua residência, avisando o Prefeito Zattar e tomando os primeiros cuidados médicos. O Prefeito Zattar comunicou-se imediatamente com as autoridades de Curitiba, Paranaguá e Antonina. Tem sido elogiável os esforços de todos de capturar o autor do crime.



A vítima e seu estado



         A vítima, como dissemos, é o senhor Aragô Morais, competente Delegado de Polícia de Morretes, casado com Dª Esther Simões Morais, irmão dos Srs. Aguilar Agassiz e da Srª Aliete Morais. O seu estado, até o momento em que escrevemos estas linhas continua inspirando sérios cuidados.

         Está em Curitiba para onde o levaram para o exame radiográfico e extração do projétil.



O autor do Crime



Paulo Kuróski é mecânico, casado com Dª Nélly Kuroski, apesar de ser tido como um tanto violento, contava com amizades em virtude do seu constante bom humor. O crime que praticou e que com tanta veemência o povo morretense deplora, impõe que seja plenamente esclarecido nos seus motivos para que a justiça se faça sentir em toda a sua plenitude.

Foragido



         Até o momento em que escrevemos estas linhas, não havia sido efetuada a prisão do criminoso.



Causas do Crime

        

Questões de pouca importância entre vizinhas, agravadas depois com disque-disques, fizeram com que Paulo Kuróski exigisse da Delegacia de Polícia, a prisão da esposa do Sr. José da Costa e uma das suas filhas. Como a delegacia não pudesse agir dessa forma sem praticar uma violência, pois não havia provas concretas sobre o alegado, apenas diligenciou a respeito, o que descontentou Paulo Kuróski, originando-se daí, a sua raiva do Delegado de Polícia, que culminou com a tragédia de ontem.



Outro Fato



         Outro fato registrado na mesma noite do crime, foi a de um roubo de uma taboa no quadro da Estrada de Ferro, cometido por Ramon Hespanhól. O Roubo foi presenciado pelo guardião Bertolino Cardoso que gritou para o “gato” largar a taboa. Como este não atendesse, o guardião armou-se de uma espingarda, descarregando uma carga de chumbo nas suas pernas.

         Sobre este fato a Estrada de Ferro abrirá inquérito. Se de um lado o Sr. Bertolino agiu no cumprimento de sua obrigação, d’outro agiu, ao nosso ver, com violência, pois o caso não requeria o meio empregado. O estado de Ramon Hespanhól é um tanto melindroso, visto que a carga de chumbo atingiu em cheio as suas pernas, indo causar-lhe talvez um aleijamento. Está para ser esclarecido também, se é permitido, por quem de direito, o uso de armas de fogo num quadro de estação completamente aberto, como é o de Morretes, onde transita livremente e em qualquer hora qualquer pessoa.