Theodoro de Bona, natural de Morretes, é artista consagrado além das
fronteiras pátrias, pois tem telas suas adquiridas pela municipalidade Veneza,
além de ser um dos vencedores do concurso movido pela Rainha da Itália, em
1936, que reuniu todos os pintores naquele país para a fixação de episódios da
1ª Grande Guerra, quadros esses que figuram na Galeria da Guerra e da Vitória,
em Roma. De Bona é hoje professor catedrático da Escola de música e Belas Artes
do Paraná. A respeito da sua vida e da sua obra, o professor Erasmo Pilotto
escreveu um livro, que o artista aparece autografando, na foto acima.
Esse Blog é o resultado do trabalho de recuperação de documentos históricos do Município de Morretes - Paraná.
sábado
sexta-feira
Beleza e Glória do Mundo Nhundiaquara (1955)
Texto de Ennio Monção Pires
A
Empolgante história da terra do historiador Rocha Pombo – Os grandes
estadistas, poetas, jornalistas, escritores, artistas, cientistas, militares,
engenheiros, advogados, filhos daquele bi-centenário torrão – Fundado o
Instituto Histórico e Geográfico de Morretes
Pelo admirável rio paranaense viajou, em 1880, até Morretes,
S. Majestade Imperial D. Pedro II – O repórter no quarto onde dormiu, duas
noites, naquela cidade, o mais sábio e democrático (não obstante Imperador) de
nossos governantes.
Um dos mais requintados prazeres
espirituais, um dos mais sutis e esplêndidos gozos intelectuais consiste, não
há dúvida, muitas vezes, em penetrarmos determinados e encantadores umbrais da
História, - sobretudo desta História que, caracteristicamente nacionalista,
fala dos grandes fatos e dos soberbos vultos da Pátria imensa. E não é
simplesmente e exclusivamente, nos centros de estonteante progresso, nas
deslumbradoras metrópoles, nas extraordinárias esferas cosmopolitas, que o
espírito mergulha, maravilhado, nas cristalinas e refrescantes águas da
História. Em plena hinterlândia, nas cidades adormecidas e rudes e feias, por
vezes nas suas exteriores e superficiais características, mas belas, de uma
emocionante e espiritualística beleza, na sua empolgante vetustez, nos séculos
que lhe imprimem aspectos de uma expressividade sem par, - é nessas cidades,
nimbadas da luz do tempo e da Glória, pela etérea e perenal presença de seus
filhos ilustres, que temos o finíssimo, o incalculável prazer de entrar em
contato com o Passado.
EM MORRETES, NO QUARTO EM QUE DORMIU
D PEDRO II
Em nossa
missão jornalística e sob a imposição de variados interesses, estamos
constantemente a fugir do metropolitano afalto do pisca pisca dos gigantescos
luminosos da frebrieitante agitação das cadilaquonas artórias – para a
magnífica placidez interiorana, para a vida silenciosa ensimesmada e anônima
das pequeninas cidades (pequenas e rudes no seu primitivismo urbanístico mas
admiravelmente grandes de uma singular importância, na simplicidade e na
ausência de nevrosados complexos, na ausência de traumatizante preocupações de
seus habitantes).
Numa dessas
constantes e recentes fugas de asha verus
da Imprensa, de ergastulado da inteligência, estivemos na bi-centenária
Morretes, torrão berçal de Rocha Pombo, do simbolista Silveira Netto, do
imperial estadista, Manoel Alves de Araújo, do jornalista João Rodrigo de
Freitas, do internacional escultor João Turim, do Almirante Frederico de
Oliveira, do engenheiro Odair Grillo, do advogado Antonio Picardi e de
numerosos outros gloriosos nomes – distante, Morretes apenas duas horas e meia,
via férrea, desta já Centacular Curitiba.
E ali,
naquela cidadezinha, fundada por João de Almeida, e esplêndida nos seus
duzentos e vinte e dois anos de existência, - imergimos, fascinados, o espírito
num Passado verdadeiramente augusto. E nos deliciamos de corpo presente com a
História.
Acontece que
lá pelos idos de 1880, o Imperial D. Pedro II acompanhado de D. Tereza
Caletina, subiu, de tancha o rio Nhundiaquara (então francamente navegável),
até Barreiros – ou Porto de Barreiros, o primeiro porto paranaense – e dali, de
bateião prosseguiu até Morretes. Chegando a Morretes (na época, Nossa Senhora
do Porto dos Morretes), D. Pedro II e sua comitiva desembarcaram pelo portão de
acesso da residência do senhor Joaquim Alves, grande hervateiro, e em cuja casa
está atualmente instalada a Coletoria Estadual daquele município. Subiu, então,
S. Majestade Imperial pela escadaria ali existente e que desce até o rio. Vimo-la a eminentemente histórica escadaria.
E temados de extraordinária emoção, estivemos naquela casa, no quarto em que
dormiu D. Pedro II, hóspede que foi do Comendador Joaquim Alves.
Presume-se,
aliás, segundo a tradição oral, que D. Pedro II tenha permanecido dois dias em
Nossa Senhora do Porto dos Morretes, dali prosseguindo para esta Capital,
Palmeira e Ponta Grossa, fazendo este itinerário por terra, possivelmente a
cavalo.
D. Pedro II na Matriz
de Morretes
Folheando o 3º livro de Tombo da Paróquia de Morretes , isso graças a
gentileza do Padre João Camargo, vigário local, - e homem assaz inteligente e
culto – tivemos oportunidade de verificar que a 4 de junho de 1880 –
precisamente há setenta e cinco anos, - D. Pedro II e a imperatriz D. Tereza
estiveram em visita à Igreja Matriz de Morretes. Isso confirma
indubitavelmente, a presença naquele ano da presença de D. Pedro II na mais de
duas vezes centenária cidade banhada pelo Nhundiaquara, importantíssimo centro
d’água que mereceu este cântico soneleante de Adolfo Werneck:
“ Magno rio! Tal qual
uma serpente
curva, fazendo curvas,
a rolar,
vais confundir tua vaga
transparente
à verde-escura
ondulação do mar.
“ Ao contemplar-te,
majestoso, a gente
de súbito se deixa
arrebatar,
e – Ofélia – vais do
gosto da corrente,
belos sonhos azuis a
edificar.
“ Soberbo rio! Ó rio
Nhundiaquara,
não creio se suplante o
próprio Nilo,
sem flóreas margens,
sem tua linja clara.
“ O coração semelhas
com tuas águas,
ora, sonhando, a
deslizar tranquilo ...
ora rugindo em
convulsões de máguas!...
INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MORRETES
De tal subido valor é o acervo de pletéritas, de homens e
fatos tocados de arrebatador tradicionalismo de Morretes: tão admirável, tão
rica, tão substanciosa é a História daquela pequenina grande terra – que, além
de outras instituições de sua imaressível vetustez, foi fundado, aliás, dia 23
de abril próximo passado, o Instituto Histórico de Morretes! Tem como
presidente: Padre João Camargo, vigário da paróquia local; como vice
presidente, nada menos do que um autêntico historiador, um estupendo
pesquisador de tudo o que diz respeito ao Passado – o Augusto Kubash, também
pertencente ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e que reside no
interior do município de Morretes.
Exaltação
Ao
Theodoro De Bona
Foi o dia de hontem, ao entardecer,
De emoção forte e ocasião feliz.
Na exposição de Bona eu pude ver
A arte que pelo verbo não se diz...
Pudesse eu com a Penna descrever
Das bellezas das cores o matiz
Falo-ia com vehemencia e tal poder
Que abalaria o mundo até raiz
Mas... impotente, a pobre musa exalta
Com voz sincera que jamais lhe falta,
O TITAN do pincel paranaense.
Saúdo em ti, De Bona, Illustre amigo,
A eterna Estirpe do Collosso antigo,
Que viu a luz em terra morretense!
E. B. Mori
Curityba, 12|03|1937.
Há Cem Anos Nascia o Poeta
Morretes
e todo o Paraná, comemoram hoje o centenário de nascimento de Manoel de Azevedo
da Silveira Netto que em 7 de setembro de 1922 foi eleito o “Príncipe da Poesia
Paranaense”. Filho de Morretes, Silveira
Netto pertenceu à antiga geração literária do Paraná, do grupo do Cenáculo, que
floresceu na última década do século passado, a que pertenciam também nomes
como Julio Pernetta, Dario Veloso e Antonio Braga.
Em
1903, ele, deixaria seu nome gravado para sempre à história da sua terra natal,
ao escrever a letra para o “Hino Morretense”, oficialmente lançado num dia 20
de dezembro, data escolhida para a comemoração da passagem do meio século de
criação da Província do Paraná.
Silveira
Netto, integrado no movimento simbolista, fez publicar no Rio de Janeiro, em
1900 seu primeiro livro de versos – “Luar de Inverno”, que mereceu os maiores
elogios da crítica da época. Publicou em seguida “Ronda Crepuscular” e “Margens
do Nhundiaquara” Em prosa deixou “Do Guaíra aos Saltos do Iguaçu”, com
impressões de viagem e exaltação às belezas naturais do Paraná. Escreveu também
um ensaio sobre o poeta negro Cruz e Souza, editado em 1924.
Longe
das letras era funcionário do Ministério da Fazenda, a que se dedicava com
retidão exemplar. Deixou ilustre descendência: Tasso da Silveira, escritor Há
pouco falecido, e mais as filhas Eleonora Silveira Lago e Eridan Silveira da
Fonseca, residentes no Rio de Janeiro. Um seu irmão, Gutenberg da Silveira, e
vários sobrinhos até hoje residem em Curitiba.
O
poeta e escritor Silveira Netto é patrono da Escola Normal de Morretes. Faleceu
a 20 de dezembro de 1942, no Rio de Janeiro, tendo os seus restos sido
trasladado para Morretes em solenidade realizada a 6 de maio de 1967,
depositados ao pé de um busto erigido em sua homenagem naquela cidade.
Retirado
de “O Estado do Paraná” - Curitiba, terça-feira, 4 de janeiro de 1972.
MORRETES
Por Jorge Luiz Malucelli
Todos os povos, todas
as regiões têm as suas fases de estacionamento, de retrocesso, mesmo para um
dia, sob uma força estranha, um poder quase místico, incontido perceberem uma
metamorfose súbita, um avançar imenso pela estrada que conduz ao progresso, a
civilização, que os irão nivelando, perante os que já sentiram os seus contatos,
as suas influências grandiosas e necessárias.
MORRETES, berço de mentalidades fecundas e esplendorosas
como Rocha Pombo, saudoso historiador brasileiro: Silveira Netto, Rodrigo de
Freitas e outros, chegou ao termo de uma jornada fatigante e difícil, pois a
data que hoje transcorre é de imenso júbilo para o povo morretense: essa
tradicional cidade litorânea comemora no dia de hoje mais um aniversário de sua
fundação, atingindo nesta data a avançada idade de duzentos e dezoito anos
(218), sendo uma das mais antigas cidades do Paraná. Em 31 de outubro de 1733
precisamente, os oficiais da Câmara da Vila de Paranaguá fizeram a demarcação
de uma área de 300 braças de terra, em nome do Rei, entregando-as então a JOÃO
DE ALMEIDA, fundador de Morretes, originando-se daí a povoação morreteana, a
qual foi elevada a categoria de Freguesia sob a invocação de NOSSA SENHORA DO
PORTO, padroeira de Morretes, por provisão do Bispo de São Paulo em 29 de abril
de 1812.
MORRETES, sempre esperançosa, inicia agora a grande
trajetória de uma terra que recebeu a mensagem de altos desígnios para o seu
povo, modesto, porém, laborioso e bom.
No município de Morretes se encontram os decantados panoramas que se
descortinam da Serra, a cascata do “Véu da Noiva”, os “canions” do Pico do
Diabo e todos os maravilhosos, e por vezes, vertiginosos aspectos do trecho da
Serra do Marumbi, fraldeado pela Estrada de Ferro assim como as florestas, as
serras e os abismos que se avistam da rodovia estadual da Graciosa. Também aqui
se ergue a montanha do Marumbi, cujo pico é o mais elevado do sistema
orográfico do Estado com 1810 metros acima do nível do mar, e é ao qual
ascendem, na estação hibernal, centenas de turistas, para contemplar o soberbo
cenário que do seu cimo se descortina e se estende por mais de 100 kms. Há,
nesta serra, no km 65, um local histórico em que foram fuzilados, no tempo da
Revolução Federalista, alguns paranaenses ilustres. Há ainda em Morretes, um
local denominado Sambaqui, onde, segundo o historiador Vieira dos Santos,
assentava a sua taba o grã Cacique dos índios Carijós, que habitavam o litoral
paranaense no século do descobrimento do Brasil.
MORRETES, terra frutífera, vê-se agora enriquecida com a
construção de uma Usina de Açúcar e Álcool, a qual está funcionando sob a
responsabilidade de Marcos Malucelli & Irmãos Ltda. Tradicional família
morreteana, na Vila Central a qual fica apenas a dois quilômetros da cidade e
onde se acham localizados majestosos engenhos de aguardente com a construção já
concluída e em funcionamento de um Grupo Escolar na rua 15 de novembro e ainda
com o Hospital de Caridade construído na rua José Morais.
Estão, portanto, de parabéns, todos aqueles, que, na
missão sublime de engrandecer o Universo e os seus semelhantes, lutam
heroicamente em prol do progresso e levantamento espiritual da terra em que
vivem: e que os Céus sempre o reconhecimento e a gratidão das gerações
presentes e futuras...
SALVE, pois, MORRETES, meu recanto natal e dos meus
afetos. Que, sobre ti, neste dia em que comemoras mais um ano de sua fundação,
a VIRGEM NOSSA SENHORA DO PORTO, na grandeza do seu templo augusto, com
magnificência de Murilo e Rafael, espalhe sempre luminosidade do seu amor, os
efusivos celestes do seu coração !!!
Salve, pois, 31 de outubro de 1951.
A Inauguração da Estrada de Rodagem Morretes-Barreiros
A Eficiente
Administração Municipal do Sr. Coronel Luiz Brambilla
A COMITIVA OFICIAL – O PRESIDENTE DO ESTADO FEZ-SE
REPRESENTAR, NA SOLENIDADE, PELO SECRETÁRIO DO INTERIOR E JUSTIÇA.
Basta dizer
que pela estrada de Barreiros, ontem inaugurada, a firma N. Basberi e Cia, de
Morretes, embarcou no vapor “Claudia M.”, com destino à república argentina,
5.000 cachos de bananas. Outros comerciantes do próspero município, exportaram
nesses últimos dias, para as Repúblicas do Rio da Prata, 5.622 cachos desse
valioso produto agrícola.
Um fato
necessário a registrar é a exportação anual do município de Morretes. Atinge a
3.000 contos, soma elevadíssima, relativamente aos demais do estado. Em certos
anos essa importância elevou-se a algumas dezenas de contos de reis a mais.
A Inauguração da
Estrada de Rodagem Morretes-Barreiros
A Prefeitura
de Morretes, tendo à frente o espírito honesto e operoso do industrial Sr, Cel.
Luiz Brambilla, trabalha com muito carinho pelo progresso do município.
Os negócios
públicos do governo da cidade são ali conduzidos com raro critério e absoluta
lisura. É suficiente essa afirmativa
consoladora, que constitui o maior elogio ao ilustre prefeito Luiz Brambilla: o
município de Morretes não deve nada a ninguém e possui nos cofres, regular
saldo. As suas finanças estão bem equilibradas. A votação da receita e despesas
são feitas a contento coletivo. O dinheiro público tem aplicação rigorosamente
honesta e visa unicamente o bem-estar geral da população morretense.
O Cel.
Brambilla, homem de ampla visão administrativa, auxiliado poderosamente pelo
Legislativo municipal, que age de comum acordo com o Executivo na defesa dos
interesses municipais, ocupa aquele posto já há alguns anos, no qual só tem
sido vitoriado pela população que o acata e aceita satisfatoriamente todas as
suas decisões – sempre justas e criteriosas e vindo sempre ao encontro das
aspirações populares.
O Sr.
Aguilar Moraes, nosso distinto confrade de imprensa, moço trabalhador e
inteligente, na qualidade de secretário da Prefeitura e da Câmara, tem se
esforçado muito, desempenhando operosa e proficientemente as suas funções.
Diário da Tarde –
29.09.1930
Romário Martins - Terra e Gente do Paraná
João de Deus Freitas – Nasceu
em Morretes, devido a sua iniciativa e capitais, instalou-se na referida cidade
em 1908, a primeira fábrica de papel e papelão que possuiu o Paraná e
possivelmente o Brasil.
A
fábrica, que funcionou sob a firma J. de Freitas & Cia, aproveitava como matéria prima o caule
do “lírio do brejo” abundante naquele município.
Mais
tarde foi a fábrica adquirida por uma firma americana e depois pelo Sr. H. A.
Bergan.
José Francisco da Rocha Pombo – Nasceu
em Morretes , a 4 de dezembro de 1957 e faleceu no Rio de Janeiro a 26 de junho
de 1933. Cerebração potente, tudo através do seu espírito e do seu temperamento
assumia proporções mal pressentidas pelas inteligências comuns. Foi brilhante
figura do jornalismo paranaense, fundando em Morretes, o “O Povo”, em 1879, periódico republicano; o “Diário dos Campos” em Ponta Grossa;
o “Diário do Comércio” em
Curitiba. Romancista e novelista, publicou: “A Hora do Barão”, “Dadá”,
“Petrucello”, “Supremacia do Ideal”, “Visões”,
“A Religião do Belo”.
Foi
sua a iniciativa da fundação de uma universidade em Curitiba, que chegou ao
lançamento da pedra fundamental de um edifício no Largo Ouvidor Pardinho. A
ideia só havia de ressurgir e então com êxito, conduzida pelos senhores doutores Victor do
Amaral e Nilo Cairo.
Rocha
Pombo, em 1897, mudou para o Rio de Janeiro a sua residência. Se não o tivesse feito não seria o nome nacional que
veio a ser como professor e como autor. A sua História do Brasil em nove volumes, é o mais grandioso monumento
sobre o assunto, que assinala a presença na elite cultural do país, de um
grande e operoso espírito. Além desse trabalho que por si só justifica a glória
de um nome, Rocha Pombo é autor de obras didáticas de história regional
brasileira e de história americana. Sua contribuição nesse ramo de
conhecimento, é a maior dentre autores brasileiros. Maior e mais completa.
José Gonçalves de Morais –
Nasceu em Morretes a 15 de janeiro de 1849 e faleceu na mesma cidade a 21 de
setembro de 1909. Poeta e prosador de
escol entre os seus contemporâneos, aos 18 anos publicou um livro de versos Semprevivas. Longos anos da sua vida
escreveu para jornais e revistas paranaenses. Durante vários anos dirigiu o Almanaque Paranaense, editado pela
Impressora Paranaense. Poeta e novelista, seus trabalhos igualam aos dos
melhores autores nacionais. “É um homem de verdadeiro talento”, dele disse
Rocha Pombo em O Paraná no Centenário.
Deixou inédito um romance realista Maria
Clara e numerosas poesias e contos, principalmente humorísticos, nos quais
pode-se dizer que ninguém o excedeu no Paraná. Foi deputado em várias
legislaturas.
Silveira Neto (Manoel
Azevedo da Silveira Neto) – Nasceu em Morretes a 4 de janeiro de 1872. Seguiu a
carreira da receita federal, onde atingiu altos postos e comissões de
importância como as de inspetor de alfândegas e de delegacias do tesouro
nacional.
Diplomado em Filosofia e Letras pela Faculdade do Rio de
Janeiro.
Foi um dos quatro idealistas do Cenáculo”, com Dario
Velozo, Júlio Perneta e Antonio Braga.
Antes de ingressar nas letras, seu pendor artístico foi
pela pintura, em 1888, matriculando-se na Escola de Belas Artes fundada e
dirigida nesse ano pelo artista português prof. Mariano de Lima. Foi-lhe
proveitosa essa aprendizagem, pois a proclamação da República encontrou-o
trabalhando na seção de gravura da Litografia do Comércio do prof. Narciso Filgueiras
e vivendo dos modestos ornamentos desse emprego. Em 1895, já incorporado ao Cenáculo, núcleo simbolista de
repercussão no país, a persistente inclinação do seu espírito pela pintura
fê-lo discípulo de Alfredo Andersen, que então surgia em Curitiba com a magia
do seu pincel despertando as almas sensíveis e anunciando a presença de um
extraordinário artista.
Em 1900 estava no Rio de Janeiro e aí publicava, com
prefácio de Nestor Victor, a sua obra prima, o livro de versos Luar de Inverno, que emparelhou com as
mais notáveis do período simbolista do Brasil, onde teve rememorável
repercussão e mereceu movimentados aplausos de notáveis escritores desse tempo,
tais como Artur Azevedo, Medeiros de Albuquerque, Veiga Miranda, Frota Pessoa,
João Itiberê (Ivan d’ Unac), Hélio Morais Filho, Andrade Muricy e outros
cultores da crítica literária.
Fundou várias revistas no Paraná, a começar pela A Luta, com Manoel Perneta (seu
primeiro ensaio na imprensa) ; O Guaraní,
revista ilustrada, com Augusto Stresser; Turris
Eburnea, com Romário Martins: Pallium,
com Julio Perneta.
No ano em que publicou Luar de Inverno (1900), publicou também Antônio Nobre, uma elegia do poeta triste de Portugal, - em luxuosa
plaquete ilustrada pelo seu lápis destro e delicado. Em 1912 publicou Do Guaíra aos Saltos do Iguaçú, o
melhor livro, até então, sobre as duas famosas cachoeiras paranaenses. Em 1913
escreveu uma elegia comemorativa do felecimento do notável compositor e
pianista paranaense, o diplomata Brasílio Itiberê da Cunha, - musicada pelo
maestro Léo Kesler e cantada, com grande sucesso, em Curitiba. Em 1914 tinha
pronto o libreto de uma tragédia O
Bandeirante, que Augusto Stresser poria em música, o que não aconteceu por
prematura morte do compositor.
Mais três livros de Silveira Neto: Ronda Crepuscular (versos) ; Palavras
de Hoje (prosa) ; e O Sonho de
Cresus (poema).
Paulo Assunção (Paulo
Ildefonso d’Assunção) – Fez o curso da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro.
De regresso a Curitiba, sua cidade natal, fundou o Conservatório de Belas Artes do Paraná, que conseguiu manter por
vários anos.
Criadas as Escolas de Aprendizes Artífices na presidência
Nilo Peçanha, a Paulo Assunção foi confiada a direção da do Paraná. Tal foi a
organização dada pelo devotado e ilustre paranaense ao estabelecimento, que
essa organização foi adotada pelo governo federal para todas as escolas
similares do país, e Paulo Assunção comissionado para fazer a necessária
adaptação nos estados do Nordeste e Norte da República.
Era cronista e crítico de arte, e ninguém o excedeu, no
Paraná, nesse campo de cultura especializada.
Autor dramático de mérito, jornalista elegante e de
vastos recursos; professor, elemento social raro e brilhante.
Seu desaparecimento em 1928, encerrou na sociedade
curitibana um período dos mais distintos, do qual fora Paulo Assunção o
animador sem contraste.
Fernando Amaro de
Miranda – Nasceu em Paranaguá em 1832 e faleceu em Morretes em 1857. Poeta,
não fez senão cantar até morrer aos 25 anos de sua vida. Publicou em 1954 um
livro, Pulsações da Minha Vida e
Leôncio Correia conseguiu editor para um outro, cremos que em 1896. Além desses
foi impresso pelo autor, o poemeto Armia,
que parece conter os seus melhores versos. Teve bons biógrafos e críticos em
Silveira Neto e Santa Rita Júnior.
Antonio Ribeiro de
Macedo – Nasceu a 15 de fevereiro de 1843, em Morretes, na então povoação
de Porto de Cima, sobre cuja localidade escreveu uma interessante monografia.
Foi escritor de relevo no seu tempo, sempre preocupado
com assuntos ligados à defesa e ao progresso do Paraná.
São
de sua autoria: Questão Social, A
Miséria é ou não possível de evitar; Questão
de Limites entre Paraná e Santa Catarina; Questão Econômica; Salvai o Paraná
(opúsculo sobre a Erva-Mate) ; Breves Informações sobre a Província do
Paraná (publicadas na Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro)
Como
jornalista editou e dirigiu “O Progresso”, em Antonina; e colaborou
assiduamente nos principais jornais de Curitiba. Seus artigos sempre
objetivaram altos assuntos de real interesse regional, nacional e humano, e
foram geralmente acatados pelos seus concidadãos. Sua obra de escritor lhe deu
entrada no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Instituto Histórico e
Geográfico Paranaense e Associação Paranaense de Imprensa.
(Romário Martins - Terra e Gente do Paraná)
PEDRA FUNDAMENTAL DO ORFANATO
Curitiba
– 4ª feira, 11 de julho de 1951
NOTÍCIAS
DE MORRETES
(Do
Correspondente)
Com a presença do exmo. Sr. Arlindo de Castro Prefeito
Municipal, do Rvmo. Pe. João Camargo, Vigário da Paróquia, da exma. Sra. Maria
Trindade M. Villanova, Presidente da Pia União Santo Antônio, e de outras
autoridades e elevado público, teve lugar na manhã de domingo último a
cerimônia de lançamento da pedra fundamental do edifício do Orfanato Santo
Antônio, cuja construção se inicia no terreno da rua Cel. Modesto, ao lado da
Igreja Matriz.
De início, as senhoras madrinhas, em número de quarenta,
seguraram a corrente simbólica, tendo o Rvmo. Vigário feito a bênção do local.
O Sr. Marcos Luiz De Bona em nome da congregação Mariana, saudou os
idealizadores da meritória obra, falando em seguida o Rvmo. Pe. Artidório
Aniceto de Lima, Missionário do Sagrado Coração, cuja oração foi um hino de
louvor aos sentimentos cristãos do povo de Morretes. Aliás, este Missionário e
mais o outro integrante das Missões, Rvmo Pe. Elias, conquistaram o coração dos
morretenses na piedosa desincumbência aos mesmos atribuída de espargirem os
raios da fé e de assistirem espiritualmente o povo, praticando ainda ações e
obras em benefício do próximo.
O terceiro orador foi o senhor Arlindo de Castro, que em
nome dos poderes públicos se congratulou com a notável iniciativa.
No cofre de pedra foi depositado um pergaminho com os
nomes das madrinhas e palavras alusivas ao ato, tendo as autoridades e o Órfão
José Armando Gonçalves lançado as primeiras colheres de massa na base do
edifício sob vibrantes salva de palmas.
No decorrer dos discursos foram feitas merecidas
referências as seguintes pessoas que de uma forma e de outra vêm contribuindo
para a consecução deste desinteratum, com o apoio espontâneo dos habitantes do
Município. Rvmo. Pe. João Camargo, Deputado Federal Dr. Lauro Lopes, Sr.
Humberto Malucelli, Sras Maria T. Villanova, Maria Bridaroli Malucelli, Marieta
França, Gessy Pinto de Jesus, Judit B. Malucelli, e Zilda Gomes Cavagnolli,
Srs. Adalberto Villanova , Sebastião Cavagnolli e João Scremin.
UMA TATUADA QUE REDUNDA EM CRIME
Lamentável
Episódio em Morretes
MORRETES ( Da Sucursal)
À
meia-noite de sábado, registrou-se nesta cidade atroz crime, praticado por três
rapazes de fora, que aqui pretendiam, segundo declaram, efetuar uma caçada de tatus.
Para
esse fim, traziam eles, dentro dum saco, dois cabos, um de picareta, outro de
cortadeira e mais algum material.
Residem
eles em Curitiba e chamam-se Emelino Fanini, João e Donato Neumann.
Relatemos
o fato, segundo o depoimento de uma das principais testemunhas, cujas
declarações parecem conter toda a verdade, visto serem confirmadas por outras;
À
meia-noite de sábado desembarcaram do trem de carga que chegou àquela hora os
ferroviários Gracia, um seu companheiro cujo nome não pudemos anotar e Olívio
Manoel Pinto, este último guarda-freios muito estimado na classe ferroviária,
casado, residente nesta cidade, genro do conhecido artista-marceneiro, Sr.
Nestor Miranda.
Ao
se aproximarem da rua 15 de novembro, na esquina da Casa Maia, foram os ferroviários
interpelados por uma mulher da vida alegre, de nome Olga Tasso da Silva, a qual
queria saber se o seu amigo Jesus de Tal também tinha vindo naquele trem.
Nisto
aproximam-se do pequeno grupo três rapazes desconhecidos, que, com ar de
deboche, perguntaram onde se podia dormir.
Olívio
Manoel Pinto encarregou-se de responder, citando os hotéis da cidade, mas, a
cada hotel mencionado, um grupo respondia que não tinha mais lugar, ao que
Olívio respondeu que então se arranjassem.
Perguntaram
então os rapazes onde tinha uma casa de mulheres da vida.
Olívio
respondeu que não sabia, que procurassem. Então um dos do grupo disse já
exaltado: “pois se você é um “caf-tan” como não saberá onde tem?”.
Ofendido
com estas palavras, Olívio ameaçou replicar com uma lanterna que tinha nas
mãos. Incontinenti os três do grupo entraram a provocar Olívio e os seus dois
companheiros, originando-se daí troca de alguns empurrões e lanternadas, quando
em dado momento, um dos do grupo, usando o cabo da picareta, deu fortíssima
pancada à traição na nuca de Olívio, prostando-se por terra gravemente ferido.
Correram
ao local populares e polícia que efetuou a prisão dos desordeiros e removeu o
ferido para a farmácia mais próxima onde foram-lhe ministrados os primeiros
curativos.
A
propósito do lamentável ocorrido, o Sr. Gustavo Richter, 1º Suplente de
Delegado de Polícia em exercício, abriu rigoroso inquérito.
Durante
o dia de ontem foram tomados por termos, pelo Sr. Clemente Consentino, Escrivão
do Crime, os depoimentos dos protagonistas da ocorrência e das principais
testemunhas.
A
vítima, cujo estado é deveras melindroso seguiu domingo à tarde para Curitiba,
a fim de se submeter a exames de Raio X, etc. Escrevendo mais esta página negra
do noticiário policial da cidade, estivemos pensando na necessidade que se faz
sentir aqui de melhor policiamento pois o destacamento local conta apenas com o
sargento comandante e mais duas praças, o que é absolutamente insuficiente,
porque se de um lado o nosso povo é ordeiro, doutro o fato de ser Morretes um
entroncamento da Estrada de Ferro e de rodagem, importa na presença frequente
de elementos estranhos e maus, muito perigosos para a sociedade.
Eis
porque apelamos para a Chefia de Polícia do Estado atenda aos pedidos já
formulados pela Delegacia local, para a vinda de maior número de mantenedores
da ordem.
N.
R – Ontem, pelo trem misto procedente de Morretes, chegou a esta capital Olívio
Pinto, vítima da brutal agressão, achando-se internado na Casa de Saúde Erasto
Gaertner, em estado grave, pelo que não foi possível às nossas autoridades
policiais tomar as suas declarações.
A INUNDAÇÃO TIROU O CRIMINOSO DA TÓCA!
Por
reagir à voz de prisão, a polícia de Paranaguá e Morretes matou o assassino do
Delegado
Aragô
Moraes
Morretes,
21 (Do nosso Correspondente) – O Sr. Pacifico P. Zattar, que no momento acumula
os cargos de Prefeito Municipal e Delegado de Polícia, forneceu-nos informes
sobre a captura de Paulo Kuróski, covarde assassino de Aragô Morais.
Relatemos
o fato :
Desde
a perpetração do crime que Paulo Kuróski estava foragido. A Polícia de todo
Estado estava ativamente no seu encalço, dando-nos a impressão de que não
falharia em hora tão precisa.
E
assim aconteceu. Sábado último às 9 horas da manhã, Espírito José da Silva,
inspetor policial de Candonga, deste município, avistou o criminoso naquela
zona, mandando avisar o delegado Zattar e seguindo de longe a pista do
delinquente.
Ipso
fato, a nossa autouridade comunicou-se pelo telefone com as autoridades de
Paranaguá e Curitiba, vindo incontinente da primeira cidade um numeroso destacamento
policial , sob o comando pessoal do Ten. Aristides Rodrigues da Silva.
Daqui
partiram, em quatro automóveis, o destacamento local, mais alguns civis,
inclusive um irmão e cunhado da vítima, todos muito bem armados e municiados. Dispostos
a tudo para fazer prevalecer a Justiça.
No
lugar “Passa Sete”, em que se sai da estrada de Paranaguá para entrar na região
do Rio Sagrado, encontraram-se as forças de Paranaguá e Morretes, sendo aí
feita a distribuição dos homens que marcharam por caminhos dificultosos.
Cada
grupo de homens levou um guia, conhecedor da região, sendo que a maior escolta
seguiu a região mais provavelmente trilhada pelo criminoso.
Partindo
pela Pedra Branca, passou essa escolta pelo Morro Alto, atingindo a Limeira.
Em
seguida rumaram para Ribeiro Grande, pois com perspicácia, já havia o
comandante da escolta, Manoel Ribeiro dos Santos, percebido vestígios da
passagem de Paulo Kuróski.
Ao
chegarem na casa de Generoso Agostinho, foi revelado à escolta que o criminoso
poderia estar num barracão abandonado distante 200 metros dali.
O
guia do grupo, Manoel Nogueira (Poly), levou os homens na direção indicada,
sendo imediatamente cercado o barracão.
À
aproximação lenta, foi pressentida a presença do criminoso naquela casa
abandonada. Estava deitado, naturalmente exausto.
Recebeu
de longe voz de prisão, em resposta a qual os representantes da justiça
receberam um tiro, que felizmente não atingiu ao alvo.
Em
represália, os homens da escolta detonaram as suas armas contra o criminoso.
Estabeleceu-se um tiroteio que foi breve, pois um tiro certeiro dado por um dos
soldados, apanhou em cheio o criminoso, matando-o instantaneamente.
Na
impossibilidade de transportarem o corpo em que estavam (Furta-Maré) para
Morretes, a escolta providenciou a ida do corpo para Guaratuba, onde foi
sepultado.
Das
diversas escoltas existentes no litoral, aque exterminou a vida do perigoso
assassino era composta dos seguintes homens:
- Mario Ribeiro dos Santos, Juveniano de Paiva, Antonio Correia, José
Galdino (Praxédes), Generoso Agostinho, Antonio Francisco, Manoel Nogueira,
Lino de Freitas e um moço pintor de casas, cujo nome não pudemos anotar.
A
morte do criminoso foi comunicada às autoridades competentes, sendo que, em
virtude disso, a sua mulher Nély, que se achava presa em Paranaguá, será solta.
E
assim foi que a enchente do dia 19 auxiliou o extermínio de Paulo Kuróski,
porque este, ao que tudo indica, estava em um lugar muito seguro, só sendo
obrigado a abandoná-lo em virtude das águas que subiram.
E
a sociedade ficou livre desse indesejável elemento, graças aos esforços de
todas as autoridades.
A
sua mulher Nély que, como se sabe, instigou o marido à prática de crime, é
também uma pessoa indesejável em Morretes, razão porque a sua mudança para
outro lugar é aqui aceita com satisfação.
Morretes
– 22/03/1938.
Ainda o Crime de Morretes
Falecimento da Vítima
(18.03.1938)
Morretes, 17 (Do nosso
correspondente) – Às 2:30h da madrugada de ontem, faleceu na Santa Casa de
Misericórdia, a despeito de todos os recursos médicos, o inditoso senhor Aragô
Moraes, vítima da perversidade do senhor Paulo Kuróski. O seu ferimento, alíás,
era de natureza gravíssima, só cabendo esperança do seu salvamento aos que,
pelo grande amor devotado, procuravam iludir-se a si próprios. O seu corpo foi
transportado para esta cidade em automóvel, aqui chegando às 15:00h.
Os Funerais
Até o
momento em que escrevemos estas linhas, não foi realizado ainda o funeral, que
está marcado para as 17:00h. O povo, porém, já se aglomera em frente à
residência do extinto, fazendo-nos crer que o acompanhamento do caixão
mortuário será uma verdadeira apoteóse.
No cemitério
, faltará o Sr. Adalberto Brambilla.
Comércio Fecha as
Portas
Das 16:30h às 18:00h o comércio em
peso fechará as portas em homenagem ao extinto.
Todos os comerciantes e indústrias locais assinaram uma lista
propondo-se a essa última homenagem a Aragô Moraes.
As Autoridades e
Médicos
Grande foi o
esforço de todas as autoridades e médicos para salvar o ferido e capturar o
criminoso. A falta de espaço não permite destacar nomes, porém, todos sabem que
o povo morretense lhes agradece.
O Extinto
Aragô
Moraes tinha 41 anos de idade. Inteligente e trabalhador, grangeou a estima e o
respeito de todos. Lutador, não esmorecia ante as dificuldades da vida. Quando a morte o colheu, satisfazia na
Prefeitura Municipal a serviços extraordinários, o que lhe dava modesto
rendimento. Como delegado de Polícia, não era remunerado, como não o são todos
os delegados do Interior. Agora aguardava a sua nomeação de analista bromatológico
da aguardente. Deixa viúva Dª Ester Simões Moraes e na orfandade dos seguintes
filhos menores: Atevita, Aliéte, Aroldo, Azilde, Anele e Arizon. Era irmão do Sr. Aguillar Moraes, do Sr.
Agassiz Moraes, funcionário publico estadual e da Sras. Aliete M. Joanides e
Ady M. Rubele.
Ainda Foragido
Ainda não
foi preso o assassino.
A polícia do Estado continua ativamente no seu encalço.
Uma Noite de Sangue
Novos
detalhes da impressionante tragédia em Morretes
MORRETES
16. 03. 1938 (Do nosso correspondente) – Perdura ainda no espírito público o
impressionande crime de ontem à noite, do qual foram protagonistas Paulo
Kuróski, mecânico e Aragô Morais, Delegado de polícia, a vítima. O crime
revoltou pela irresponsabilidade do autor que não trepidou em alvejar
mortalmente uma autoridade de proficiente, honrado pai de família, pessoa enfim
estimada por todos em Morretes.
O
Crime
Aproximadamente à
1:30 h da noite de 15 para 16 do corrente, o senhor Aragô Morais, acabava de
fazer uma difícil diligência, que relataremos adiante, quando, após ter estado
um momento no Bar Nhundiaquara tomando café, regressou para a sua residência.
Antes porém de atingi-la, ao dobrar a esquina da casa Maia, o delegado deparou
com o mecânico Paulo Kuróski que sem mais preâmbulos sacou da sua arma e
alvejou-o com um tiro. A bala não atingiu o alvo, dando lugar a que o delegado
sacasse também da sua arma e desfechasse contra o seu desafeto. Estabeleceu-se
o tiroteio e, como o me caniço estivesse melhor colocado pois premeditara o
crime, atingiu com um dos seus tiros o pescoço do Delegado. O ferimento foi
mortal. O projétil penetrou na medula, interessando a espinha dorsal. O Sr.
Aragô caiu em consequência desse grave ferimento, enquanto que o criminoso
fugia para lugar ignorado.
As
autoridades
Ao que se sabe até
agora, nenhuma pessoa foi testemunha ocular do fato. Porém havia gente perto
que correu imediatamente em socorro da vítima, recolhendo-a à sua residência,
avisando o Prefeito Zattar e tomando os primeiros cuidados médicos. O Prefeito
Zattar comunicou-se imediatamente com as autoridades de Curitiba, Paranaguá e
Antonina. Tem sido elogiável os esforços de todos de capturar o autor do crime.
A
vítima e seu estado
A vítima, como
dissemos, é o senhor Aragô Morais, competente Delegado de Polícia de Morretes,
casado com Dª Esther Simões Morais, irmão dos Srs. Aguilar Agassiz e da Srª
Aliete Morais. O seu estado, até o momento em que escrevemos estas linhas
continua inspirando sérios cuidados.
Está em Curitiba para onde o levaram
para o exame radiográfico e extração do projétil.
O
autor do Crime
Paulo
Kuróski é mecânico, casado com Dª Nélly Kuroski, apesar de ser tido como um
tanto violento, contava com amizades em virtude do seu constante bom humor. O
crime que praticou e que com tanta veemência o povo morretense deplora, impõe
que seja plenamente esclarecido nos seus motivos para que a justiça se faça
sentir em toda a sua plenitude.
Foragido
Até o momento em que escrevemos estas
linhas, não havia sido efetuada a prisão do criminoso.
Causas
do Crime
Questões
de pouca
importância entre vizinhas, agravadas depois com disque-disques, fizeram com
que Paulo Kuróski exigisse da Delegacia de Polícia, a prisão da esposa do Sr.
José da Costa e uma das suas filhas. Como a delegacia não pudesse agir dessa
forma sem praticar uma violência, pois não havia provas concretas sobre o
alegado, apenas diligenciou a respeito, o que descontentou Paulo Kuróski,
originando-se daí, a sua raiva do Delegado de Polícia, que culminou com a
tragédia de ontem.
Outro Fato
Outro fato registrado
na mesma noite do crime, foi a de um roubo de uma taboa no quadro da Estrada de
Ferro, cometido por Ramon Hespanhól. O Roubo foi presenciado pelo guardião
Bertolino Cardoso que gritou para o “gato” largar a taboa. Como este não
atendesse, o guardião armou-se de uma espingarda, descarregando uma carga de
chumbo nas suas pernas.
Sobre este fato a Estrada de Ferro
abrirá inquérito. Se de um lado o Sr. Bertolino agiu no cumprimento de sua
obrigação, d’outro agiu, ao nosso ver, com violência, pois o caso não requeria
o meio empregado. O estado de Ramon Hespanhól é um tanto melindroso, visto que
a carga de chumbo atingiu em cheio as suas pernas, indo causar-lhe talvez um
aleijamento. Está para ser esclarecido também, se é permitido, por quem de
direito, o uso de armas de fogo num quadro de estação completamente aberto,
como é o de Morretes, onde transita livremente e em qualquer hora qualquer
pessoa.
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